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Sustentável, a cidade tem seu ritmo ditado fortemente pelos rios da Amazônia | Reprodução/YouTube
Afuá, localizada na Ilha de Marajó, no Pará, é considerada um destino de um modo de vida ribeirinho singular. Apelidada de "Veneza Marajoara" e "Amsterdã dos Trópicos", a cidade está inteiramente erguida sobre palafitas, adaptando-se de forma criativa e eficiente às cheias periódicas da várzea amazônica.
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O urbanismo se destaca por uma regra radical que transforma a mobilidade local. Uma lei municipal, desde 2002, proíbe a circulação de carros, motos ou qualquer veículo motorizado, tornando o ambiente de Afuá mais dominado pelo zumbido das correntes das bicicletas e pelo som dos remos na água, além de ajudar na luta contra a poluição.
Sustentável, a cidade tem seu ritmo ditado fortemente pelos rios da Amazônia. Contudo, toda a inovação e harmonia ecológica contrasta com outro polo local. Enquanto a qualidade ambiental está no alto, índices apontam uma severa precariedade humana, especialmente no quesito do saneamento básico.
Toda a cidade de Afuá repousa sobre uma densa "floresta de estacas de madeira" conectadas por passarelas suspensas a cerca de 1,20 metro acima do solo alagadiço.
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A escolha por esta arquitetura não é uma escolha estética, mas uma necessidade fundamental para coexistir com a força das marés e o ciclo anual de cheias.
Além disso, a manutenção desse sistema exige um "conhecimento tradicional profundo" transmitido entre gerações, sobre a seleção das madeiras mais resistentes e as técnicas de construção ideais.
Com o costume do cotidiano, a comunidade passou a preferir trabalhar com os ritmos do rio, em vez de tentar controlá-lo com aterros. Entretanto, a troca recente de passarelas de madeira por concreto é vista como uma "adaptação perigosa".
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O cenário sonoro de Afuá é feito de pedais, pois a proibição de veículos motorizados garante que a bicicleta seja o "coração da mobilidade local".
Tradicional na cidade, o bicitáxi, um quadriciclo artesanal resultante da união de duas bicicletas, transporta passageiros e cargas pelo local. Desta forma, até serviços críticos, como o socorro, são adaptados com a "bicilância", veículo a pedal equipado com maca e suporte para oxigênio.
Este sistema de transporte gera uma economia local robusta e de ciclo fechado, afastando a necessidade de gastos com combustíveis fósseis e peças importadas. Com a economia, os setores dos artesãos, mecânicos e operadores de bicitáxi conseguem mais investimentos.
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Por fim, a locomoção se torna mais sociável, fortalecendo laços e interação nas ruas e passarelas.
Mesmo com os pontos fortes citados acima, um grande problema atinge a cidade: o do saneamento básico. Dados do Diagnóstico Municipal são alarmantes, classificando que 99,4% da população não têm acesso a tratamento de esgoto, com os dejetos sendo descartados nas mesmas águas que mantêm a vida local. Consequentemente, quase todas as moradias são consideradas inadequadas.
Além disso, a cidade sofre diretamente os impactos das mudanças climáticas, com a agricultura e a pesca sendo afetadas pelos ciclos erráticos de cheias e secas.
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