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Essa cidade tem o último por do Sol do país e um fuso horário próprio

Com fuso horário próprio, paisagens de relevo andino em plena Amazônia e biodiversidade única, a cidade representa uma fronteira viva entre conservação e desenvolvimento

Pedro Morani

08/10/2025 às 16:56  atualizado em 09/10/2025 às 16:10

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Conheça a cidade mais a oeste do país e que tem um fuso próprio

Conheça a cidade mais a oeste do país e que tem um fuso próprio | Freepik

Localizada no extremo oeste do país, essa cidade é mais do que um ponto no mapa: é um território de identidade forte, natureza exuberante e desafios intensos. 

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O município do Acre vive duas horas "atrás" de Brasília, guarda a última despedida do sol no Brasil e abriga a Serra do Divisor
O município do Acre vive duas horas "atrás" de Brasília, guarda a última despedida do sol no Brasil e abriga a Serra do Divisor
Com pouco mais de 19 mil habitantes, Mâncio Lima tem uma economia fortemente dependente do setor público
Com pouco mais de 19 mil habitantes, Mâncio Lima tem uma economia fortemente dependente do setor público
A paisagem, isolada e de difícil acesso, preserva um ecossistema intocado que se manteve protegido, em parte, justamente por causa de sua distância dos grandes centros urbanos (Fotos: Youtube/Reprodução)
A paisagem, isolada e de difícil acesso, preserva um ecossistema intocado que se manteve protegido, em parte, justamente por causa de sua distância dos grandes centros urbanos (Fotos: Youtube/Reprodução)

O município do Acre vive duas horas “atrás” de Brasília, guarda a última despedida do sol no Brasil e abriga a Serra do Divisor, uma joia natural com relevo montanhoso e biodiversidade impressionante.

 Com sua geografia singular e uma cultura marcada pelo isolamento e pela resistência, Mâncio Lima se tornou símbolo de uma Amazônia que busca equilibrar progresso e preservação.

Onde o Brasil termina: o pôr do sol mais tardio do país

Mâncio Lima é oficialmente o município mais a oeste do Brasil, abrigando o ponto extremo do território nacional: a nascente do rio Moa, na Serra do Divisor, na fronteira com o Peru. A localização geográfica confere ao lugar um fenômeno único: o último pôr do sol do país. 

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A paisagem, isolada e de difícil acesso, preserva um ecossistema intocado que se manteve protegido, em parte, justamente por causa de sua distância dos grandes centros urbanos.

Esse afastamento, porém, traz desafios profundos. A cidade é a mais distante de Brasília em linha reta, reforçando sua condição periférica. 

A distância física molda a cultura local e a relação da comunidade com o restante do país, criando uma identidade marcada pela autonomia e pelo orgulho de estar na “ponta do Brasil”.

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Mais do que um belo espetáculo natural, o último pôr do sol simboliza a condição de fronteira: um lugar que encerra o território, mas também abre caminhos para debates sobre integração nacional, soberania e conservação ambiental.

A hora do Acre: a luta por um fuso próprio

Uma das marcas mais fortes de Mâncio Lima é seu fuso horário: duas horas a menos que Brasília. A diferença não é casual, é fruto de uma batalha popular. 

Em 2008, uma lei federal adiantou o relógio local em uma hora, buscando “facilitar” a integração com o restante do país. A população reagiu com força: a mudança desorganizou a rotina diária e gerou desconforto generalizado.

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Dois anos depois, um referendo histórico reverteu a decisão. Mais da metade dos eleitores votou pela volta ao horário original, e a vontade popular foi confirmada em 2013. O episódio mostrou que o fuso horário não era apenas uma questão técnica, mas um símbolo de identidade e resistência cultural.

Viver com o tempo “do Acre” significa alinhar a rotina à luz natural, ao ritmo da floresta e às necessidades locais, uma forma silenciosa de afirmar autonomia em um país de dimensões continentais.

Serra do Divisor: a Amazônia com alma andina

Dominando a paisagem de Mâncio Lima está o Parque Nacional da Serra do Divisor, com mais de 843 mil hectares. Em meio à planície amazônica, a região surpreende por seu relevo montanhoso, formado pelo soerguimento da Cordilheira dos Andes. O ponto mais alto do Acre está lá, com 609 metros de altitude, criando uma geografia única no país.

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Essa formação especial resulta em uma variedade impressionante de microclimas e habitats. A Serra do Divisor funciona como um “mosaico ecológico”, onde se encontram espécies típicas da floresta tropical e outras adaptadas a altitudes maiores. 

O cenário, de beleza cênica rara, é também uma peça-chave no equilíbrio ambiental da Amazônia Ocidental.

Essa singularidade transforma a serra em um laboratório natural para pesquisadores e um destino de ecoturismo ainda pouco explorado, que poderia se tornar um exemplo de desenvolvimento sustentável.

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Um santuário ameaçado

A Serra do Divisor abriga mais de 1,2 mil1.200 espécies registradas, incluindo onças-pintadas, ariranhas e o macaco-uacari-vermelho. O parque forma, junto com a Sierra del Divisor, no Peru, um corredor ecológico vital para a manutenção da biodiversidade na região.

Entretanto, essa riqueza está sob ameaça. Projetos de infraestrutura, especialmente uma proposta de rodovia entre Cruzeiro do Sul (AC) e Pucallpa (Peru), podem cortar o parque ao meio. Estradas na Amazônia historicamente funcionam como vetores de desmatamento, grilagem e extração ilegal.

Especialistas alertam que os impactos de uma obra desse porte seriam irreversíveis. A decisão sobre essa estrada vai muito além de uma questão local: representa um teste para o compromisso do Brasil com a preservação da Amazônia.

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Entre isolamento e inovação econômica

Com pouco mais de 19 mil habitantes, Mâncio Lima tem uma economia fortemente dependente do setor público. A baixa densidade populacional e a distância dos centros urbanos dificultam a formação de um mercado privado forte. Isso torna a região vulnerável às flutuações políticas e limita oportunidades de emprego.

Apesar disso, surgem iniciativas que mostram outro caminho. Um exemplo é a Coopercafé, cooperativa que reúne produtores familiares em um projeto de cafeicultura sustentável. A operação, abastecida por energia solar, utiliza apenas áreas degradadas, evitando novos desmatamentos.

Esses esforços provam que é possível conciliar desenvolvimento econômico com conservação ambiental. Para muitos moradores e especialistas, esse é o modelo de futuro mais promissor para Mâncio Lima: um desenvolvimento de baixo impacto, valorizando a floresta em pé.

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