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A cirurgia exige preparo meticuloso da área lesionada e do tecido doado, garantindo o encaixe anatômico ideal para restabelecer a função articular | Freepik
Em julho de 2025, pela primeira vez, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou um transplante de joelho. O paciente, um homem de 55 anos, precisou ter ¼ da articulação do seu joelho reconstruída após um acidente de moto.
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Matheus Azi, ortopedista responsável pelo procedimento, essa é uma cirurgia complexa devido à necessidade do transplante não só do osso, como também da cartilagem.
Entrevistamos o médico ortopedista Marcos Lopes, que explicou o que é transplante de ossos e cartilagem e a realidade brasileira com relação a esse procedimento.
O transplante de ossos e cartilagem — conhecido tecnicamente como transplante osteocondral — é um procedimento que substitui áreas danificadas da articulação por um enxerto que contém cartilagem e osso subcondral saudáveis.
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Esse enxerto pode ser retirado de um doador falecido compatível ou, em casos específicos, do próprio paciente (autoenxerto).
A cirurgia exige preparo meticuloso da área lesionada e do tecido doado, garantindo o encaixe anatômico ideal para restabelecer a função articular.
O procedimento é indicado para lesões osteocondrais localizadas, causadas por traumas, osteocondrite dissecante ou condropatias graves que comprometem a mobilidade — sobretudo em pacientes jovens e de meia-idade, sem sinais de artrose avançada.
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Lesões maiores que 3 a 4 centímetros de diâmetro, que não respondem bem a tratamentos convencionais, costumam ser candidatas ao transplante.
Embora os termos sejam frequentemente usados como sinônimos, transplante e enxerto têm distinções técnicas.
O enxerto consiste na transferência de um tecido sem seu suprimento sanguíneo original, exigindo que novos vasos se formem no receptor. Já o transplante pode envolver tecidos ou órgãos com, ou sem vascularização preservada.
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“No caso ortopédico, o transplante osteocondral é um tipo específico de enxerto, composto por osso e cartilagem. A principal diferença é que o enxerto chega sem vasos sanguíneos ativos, o que demanda uma adaptação no local onde será implantado”, explica Marcos.
Segundo Marcos, o Brasil dispõe de uma rede organizada de bancos de tecidos musculoesqueléticos, essenciais para a realização desses procedimentos.
“O destaque é o Banco de Tecidos Musculoesqueléticos do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), no Rio de Janeiro, responsável pela captação, processamento, armazenamento e distribuição de ossos, cartilagens, tendões e meniscos para todo o país”, afirma o médico.
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A operação funciona 24 horas por dia, com equipes especializadas de captação, seguindo protocolos rigorosos de segurança e qualidade.
Além do INTO, há bancos regionais vinculados a hospitais universitários e instituições de grande porte. Ainda assim, a oferta de tecidos é limitada, e a demanda crescente pressiona o sistema.
Os transplantes de tecidos vêm em ascensão no Brasil. Em 2024, o país ultrapassou a marca de 30 mil procedimentos entre órgãos e tecidos, segundo dados do Ministério da Saúde.
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No campo musculoesquelético, o INTO registrou aumento de 31% nas captações de ossos e tendões em um período recente.
Apesar do avanço, os transplantes osteocondrais ainda são menos comuns, realizados em centros altamente especializados.
Um marco importante ocorreu em 2025, na Bahia, quando o Hospital Ortopédico do Estado da Bahia (HOEB) realizou o primeiro transplante osteocondral pelo SUS na região, consolidando a expansão dessa técnica.
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A área de transplantes osteocondrais vem sendo impulsionada por tecnologias regenerativas e biomédicas.
Entre as inovações estão o uso de plasma rico em plaquetas (PRP) e injeções de células-tronco mesenquimais, que estimulam a regeneração da cartilagem e melhoram a integração do enxerto.
Técnicas de transplante a fresco, que preservam a vitalidade do tecido doado, têm mostrado resultados promissores.
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Além disso, imagens 3D auxiliam no planejamento cirúrgico, e protocolos de reabilitação personalizados aceleram a recuperação funcional dos pacientes.
O Brasil participa ativamente de pesquisas em medicina regenerativa e transplantes osteocondrais.
O Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da USP (IOT-HCFMUSP) conduz estudos inéditos sobre transplantes de cartilagem e integração tecidual, em parceria com centros internacionais.
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As pesquisas buscam reduzir o tempo de espera, otimizar técnicas cirúrgicas e melhorar os resultados a longo prazo, explorando o uso de biomateriais e terapias celulares.
Manter a operação dos bancos de tecidos exige infraestrutura robusta e protocolos rígidos de biossegurança.
Entre os desafios estão a escassez de doadores, os controles de contaminação, a compatibilidade anatômica e imunológica e a logística de transporte e conservação, já que os tecidos têm vida útil limitada.
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“O INTO, que abriga o maior banco de ossos do SUS, segue padrões internacionais de qualidade, mas ainda enfrenta dificuldades para suprir a demanda nacional”, afirma o ortopedista.
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