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Adolescentes usando moletom no calor parece normal, mas a psicologia pode revelar algo sério

Desde insegurança até pertencimento, a escolha, na verdade, faz bastante sentido

Jenny Perossi

15/10/2025 às 18:34

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Hábito possui raizes psicológicas profundas.

Hábito possui raizes psicológicas profundas. | Imagem: Freerange

Se você já passou em frente a uma escola de ensino médio durante o horário da saída em um dia de calor, deve ter notado uma coisa estranha: adolescentes usam moletom mesmo em dias ensolarados de verão. Mas a psicologia explica esse comportamento.

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Acompanhamento psicopediátrico durante a adolescencia pode ser muito importante. Image: bando de imagens
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Otakus são uma cultura baseada no consumo de animes, mangas e outros produtos japoneses. Imagem: PxHere
Otakus são uma cultura baseada no consumo de animes, mangas e outros produtos japoneses. Imagem: PxHere
Hábito possui raizes psicológicas profundas.Imagem: Freerange
Hábito possui raizes psicológicas profundas.Imagem: Freerange

Essa moda não é exclusiva do Brasil: Marshall Shepherd, professor da Universidade da Geórgia, Estados Unidos, comentou sobre seu filho em um tweet e recebeu uma enxurrada de pessoas relatando a mesma coisa.

“Eu tenho um filho de 15 anos que usa moletons de manga comprida no meio do verão quente da Geórgia. Recentemente, tuitei sobre isso e muitas pessoas comentaram catarticamente”, disse ele. Entenda por que essa prática é tão comum nessa faixa etária.

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Barreira protetora

O mundo adolescente é recheado de descobertas emocionais muito complexas e marcado pelo aparecimento de problemas muito mais significativos do que na infância. Nessa enxurrada de sentimentos complexos, o moletom pode servir como uma espécie de abrigo.

É o que explicou Matheus Karounis, mestre em Psicologia Clínica pela PUC - Rio, para o jornal O Globo: “Imagine o moletom como uma espécie de cobertor de segurança emocional. É como se o tecido macio e volumoso criasse uma barreira protetora entre o adolescente e um mundo que, muitas vezes, parece intimidador”.

E, durante a adolescência, o corpo muda muito, com o desenvolvimento das características sexuais secundárias, o aparecimento de pelos, perda ou ganho de peso, de altura, e todas essas mudanças deixam o adolescente descontente e inseguro com a própria forma física:

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“Por isso, muitos preferem roupas largas e confortáveis para esconderem seus corpos e se sentirem mais seguros. Pode até ser uma tentativa de "desaparecer" um pouco, evitando olhares ou comparações.” conta o psicólogo Ricardo Milito, diretor científico do Instituto Bem do Estar.

Universo de comparações

Anne Crunfli, psicóloga especializada em Transtornos de Ansiedade pela USP, explica que na adolescência uma mudança social muito importante acontece. Uma criança de até 10 anos tende a se preocupar mais com os afetos primários: pai, mãe, irmãos etc.

Mas, a partir dos 11 anos, a influência e opinião dos amigos e colegas passam a ser mais importantes. E as comparações e inseguranças ficam ainda piores com o mundo das redes sociais, que destoa muito da realidade da maioria dos adolescentes.

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“Antes a comparação era com pessoas do bairro, escola, clube, enfim, pessoas próximas. Mas, com as redes sociais, ela ficou muito mais ampla, injusta, fictícia e utópica. Uma grande vitrine com filtros, inteligência artificial, vidas recortadas, editadas e perfeitas, passam a ser o universo de comparação.

Moletom como pertencimento

Outra hipótese trabalhada pelos especialistas em psicologia adolescente é a do pertencimento. Usar um moletom pode simbolizar que você pertence a uma tribo urbana, como a dos nerds, sadboys, otakus etc. É uma forma deles mostrarem que pertencem a algo maior.

Outro motivo pode ser pura rebeldia, afirma Ricardo Milito: “A rebeldia é uma forma dos jovens tentarem afirmar sua existência e identidade se distanciando das regras e expectativas dos adultos e da sociedade”. Usar roupas calorentas em dias quentes é, de fato, uma atitude “do conta”.

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Sinais de alerta

A insistência do moletom pode, contudo, ser um sinal de alerta para algumas condições mais profundas. Adolescentes trans possuem o costume de usar moletons para disfarçar as características do gênero com o qual não se sentem pertencentes.

Perceber o corpo se desenvolvendo da maneira oposta ao que sentem por dentro causa um intenso sofrimento psíquico, conhecido como disforia de gênero. Na cultura da internet, é comum se referirem ao moletom preto como “moletom da disforia”.

É preciso olhar com atenção para outros sinais de alerta que podem estar junto do hábito de usar sempre moletom: isolamento excessivo ou mudanças significativas no humor e comportamento.

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Milito explica que, em casos mais complexos, o moletom pode ser até uma maneira de esconder marcas de automutilação.

“Pela dificuldade que os adolescentes encontram para se adaptar às mudanças dessa fase, infelizmente, alguns jovens se automutilam, e o moletom acaba sendo um recurso para esconder as marcas”, conta ele.

O que fazer?

Caso você perceba esses sinais de alerta para casos mais complexos em seu filho adolescente, comece pelo não julgamento. A adolescência é uma jornada de autodescoberta, e criar métodos para navegar por elas também é parte do aprendizado.

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É o que explica Matheus Karounis, da PUC - Rio: “A chave está em manter um diálogo aberto e acolhedor, criando um ambiente onde o adolescente se sinta seguro para expressar seus sentimentos”.

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