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Famílias que se inscreveram há um mês ainda aguardam com medo e incerteza o auxílio de R$ 600
09/05/2020 às 01:00 atualizado em 09/05/2020 às 21:10
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Fila enorme na agência da Caixa na Rua Comendador Cantinho, zona leste de São Paulo, para receber o auxílio emergencial | Paulo Guereta/Folhapress
O anúncio de um auxílio emergencial no valor de R$ 600 em meio a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) gerou uma luz no fim do túnel para os trabalhadores informais que temiam não ter como se manter em um período de isolamento. Porém, muitas famílias que se inscreveram logo nos primeiros dias de abril ainda não receberam a ajuda e o que era esperança virou pesadelo, com a incerteza e o medo da fome. Cerca de 30 dias depois, ao acessar o aplicativo ou site, a mensagem que aparece é "Em análise".
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Até o final de abril, cerca de 50,52 milhões de pessoas receberam a primeira parcela do auxílio. A estimativa da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado é que o número pode chegar a, pelo menos, 80 milhões. Em uma projeção mais extrema de crise e desemprego, de acordo com a instituição, o número de elegíveis aos R$ 600 poderia chegar até a 112 milhões - mais da metade da população brasileira.
"Eu temo não ter o que colocar na mesa e passar fome. Vendia pastel na feira, mas agora é impossível. Fiz o cadastro no início de abril e até agora nada. Continua em análise", diz Alessandra Justino, de 38 anos, moradora do Jardim Jamaica, em Taboão da Serra.
Entre todas as reclamações, que vão desde falha no sistema, erros no cadastro e dificuldades para sacar, a que lidera o ranking é a demora para a análise do cadastro. De acordo com o Ministério da Cidadania, quem faz esta análise é a Dataprev, uma empresa pública responsável pelas soluções nas áreas da Tecnologia da Informação e Comunicação.
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PROCEDIMENTO
A Dataprev cruza todos os dados enviados com o registro do Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS). Depois do cruzamento de dados, a empresa envia as informações ao Ministério da Cidadania. Após isso, o ministério homologa e reenvia as informações para a Dataprev, que encaminha os dados para a Caixa Econômica Federal fazer o pagamento.
De acordo com a Dataprev, "o atraso na análise se deve ao fato de que todas as regras estão no estágio de entendimento". Ainda de acordo com a empresa o processo deve ser mais rápido nos próximos dias.
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Essa longa espera para que o dinheiro seja liberado faz com que os beneficiários, parte sem tantas habilidades tecnológicas, saiam a procura de atendimento nas agências da Caixa. Nas últimas semanas filas gigantescas foram formadas em agências da Capital e Grande SP. Até a manhã de sexta-feira, 8, o Estado registrava mais de 39 mil casos confirmados de coronavírus e 3.206 óbitos.
O governo pede para que as pessoas fiquem em casa.
Já a Caixa diz que na semana que vem será concluída a análise de 17 milhões de pedidos, incluindo os de reanálises. A expectativa é de que 6 milhões a 8 milhões sejam elegíveis para receber o benefício.
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Além disso, a Caixa reforça que dúvidas podem ser tiradas pelos sites auxilio.caixa.gov.br, www.caixa.gov.br, www.gov.br e pelo telefone 111. Veja ao lado o passo a passo para solicitar o benefício.
HISTÓRIAS.
A produtora cultural autônoma Bianca Pereira, de 36 anos, moradora do bairro do Grajaú, na zona sul da Capital, fez o cadastro do auxílio emergencial assim que o aplicativo ficou disponível, na primeira semana de abril. Até agora, porém, nada de receber o benefício.
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Segundo ela, até dia 28 de abril o cadastro constava “em análise”. Depois, surgiu a mensagem de que o cadastro estava com alguma informação divergente, sem especificar qual. “O aplicativo apresentou uma lista de possibilidades, porém sem informar qual era a inconsistência dos meus dados”, diz.
Ela, então, refez todo o processo de cadastramento no dia 28, e até hoje sua situação continua em análise. “São 30 dias de espera”, afirma.
A produtora é casada e mãe de um menino de 1 ano e 7 meses e diz que recebe apoio somente de organizações sociais e coletivos culturais, com R$ 300 e doação de cestas básicas. “O auxílio [do governo] será importante para compra de mantimentos, pagamentos de água e luz, porque o aluguel nem sei como iremos pagar”.
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No caso do auxiliar de comércio Higor Luis de Melo, de 19 anos, a burocracia tem sido o grande entrave para acessar o auxílio do governo federal. Depois de várias dificuldades para se cadastrar, ele decidiu ir a uma agência da Caixa para tentar resolver o problema. O dinheiro estava disponível, mas ele não pode sacar por problemas com o RG.
Como ele tinha perdido seu RG recente, levou um de quando era criança. O atendente informou que não seria possível com aquele documento antigo. “Ele não me instruiu sobre como resolver meu problema e eu sai de lá sem entender nada”, diz Higor, que contou não ter sido aceita a certidão de nascimento também.
“O meu maior problema é que eu não consigo fazer uma segunda via do RG pois todas as unidades do Poupatempo estão fechados e eles não me apresentam sequer uma solução para o meu problema”, diz ele, que teme ter o nome enviado aos programas de proteção ao crédito por atraso de pagamento em contas.
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A artista e mediadora de leitura Michele Andrade, 26 anos, moradora do Campo Limpo, na zona sul da Capital, explica que a situação da sua família se complicou bastante após o início da pandemia na cidade. Ela vive com a mãe e o irmão.
Michele conta que a solicitação que fez à Caixa apareceu como negada. “Já tenho cadastro no CadUnico, e não falaram o porquê, só deu negado. E não consegui ir ao banco porque tanto eu quanto minha mãe estamos em isolamento total, solicitado pela médica”, explica. Sua mãe, de 60 anos, que é diarista, está sob suspeita de ter contraído Covid-19.
“Como sou artista e mediadora de leitura, não tenho trabalho neste tempo de pandemia, e o que eu ganho é muito pouco pra manter minha casa com três pessoas, água e luz. Além disso, meu irmão está desempregado. Está muito complicado se manter e se cuidar com tão pouco”, explica.
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(com colaboração de Bruno Hoffmann)
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