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Grupo se une para salvar nascente no bairro da Pompeia

DIA MUNDIAL DA ÁGUA. Coletivo do bairro da zona oeste quer evitar construção de edifícios em nascente do córrego Água Preta

Matheus Herbert

Publicado em 22/03/2019 às 01:00

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O coletivo Ocupe & Abrace construiu dois lagos na Praça da Nascente, que se tornaram habitats de várias espécies de animais / /Fotos: Thiago Neme/Gazeta de S. Paulo

Entre uma igreja católica e um templo budista na avenida Pompeia, na zona oeste de São Paulo, há um terreno com casas demolidas onde uma construtora pretende construir dois edifícios de 22 andares e três subsolos. Na parte de trás do espaço, por sua vez, existe a Praça Homero Silva, onde nasce o córrego Água Preta, que logo se torna canalizado e deságua no rio Tietê. Um coletivo de moradores do bairro está em uma luta para evitar que os prédios sejam erguidos, o que, segundo eles, prejudicaria extremamente a região da nascente e o meio ambiente da área.

No Dia Mundial da Água, celebrado nesta sexta-feira, a Gazeta conheceu o coletivo Ocupe & Abrace, que começou a atuar no local rebatizado informalmente como Praça da Nascente em 2013. Antes, explica a analista de sistema Mirian Mello Franco, o local era muito descuidado e temido pelos moradores da Pompeia. "Tinha muito lixo, muito documento jogado pelo chão, porque a praça era rota de fuga de ladrões. As pessoas não passavam aqui por medo. A gente começou a cuidar da praça, a catar o lixo, a plantar espécies nativas e a cuidar da nascente. Tudo feito por nós, pelos moradores, quase sem ajuda da prefeitura", diz.

Hoje, a praça se tornou um local bem cuidado e seguro. O Ocupe & Abrace também construiu dois lagos no local, que se tornaram habitats de várias espécies de animais, como pequenos peixes e sapos. Também não é raro ver pássaros como pica-paus e até gaviões pelas árvores.

De acordo com Mirian, a luta para manter a nascente e a praça intocadas não é fácil. Ela lembra que há uma lei que determina ser proibido fazer construções num raio de 50 metros de áreas de nascentes. Mas a construtora, segundo ela, alega que aquele local não é uma nascente, o que seria contrariado por diversos
documentos.

"A construtora conseguiu uma licença para a demolição das casas que havia no terreno em 2015, e agora estão tentando conseguir a licença para a construção. Nós vamos lutar para evitar isso", explica Mirian. As obras de construção do edifício ainda não
começaram.

A analista de sistema conta que a construção dos edifícios causaria uma série de problemas. Primeiro porque a construtora teria que drenar a água para não alagar os estacionamentos dos prédios. Depois, porque as árvores mais antigas da praça estão acostumar a pegar água numa região menos profunda. Se as águas forem baixadas, a consequência seria a morte de muitas espécies de árvores. Além disso, a altura dos prédios causaria uma sombra praticamente constante no local.

Outro que está na luta para que os prédios não subam é o fotógrafo e artista plástico Didier Lavialle, um francês que vive no Brasil há 26 anos, que explica que, caso a construção seja concretizada, "o lençol freático será baixado drasticamente".

Ele lembra que há uma tendência mundial de unir desenvolvimento econômico com proteção ao meio ambiente, mas que o Brasil ainda peca neste aspecto. "O Brasil lida mal com tudo o que é ecológico, com tudo o que é mata, com tudo o que é água. Um dia as pessoas morrerão de sede e não saberão nem por quê".

O francês conta que, na sua infância, o rio Sena era extremamente poluído. "Hoje, o Sena é um dos grandes símbolos e cartões-postais de Paris", destaca.

Para ele, o trabalho do coletivo Ocupe & Abrace ajudou a conscientizar muitas pessoas do bairro da Pompeia, que começaram a ver a praça como um ambiente de bem- estar, e não apenas um local para ser evitado ou temido. A partir do trabalho do coletivo, mais gente começou a frequentar o espaço.

Após as transformações na Praça da Nascente iniciadas em 2013, as pessoas passaram a fazer piqueniques e promover apresentações artísticas em volta das águas que brotam da terra. Mirian diz que o coletivo gastou muito pouco para promover as transformações no local. A boa vontade dos envolvidos é que foi fundamental. Agora, ela está confiante que a luta contra a construtora para manter o curso d'água intocado será bem-sucedida. "Nós vamos conseguir", diz, esperançosa. (Bruno Hoffmann)

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