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DIA MUNDIAL DA ÁGUA. Coletivo do bairro da zona oeste quer evitar construção de edifícios em nascente do córrego Água Preta
O coletivo Ocupe & Abrace construiu dois lagos na Praça da Nascente, que se tornaram habitats de várias espécies de animais / /Fotos: Thiago Neme/Gazeta de S. Paulo
Entre uma igreja católica e um templo budista na avenida Pompeia, na zona oeste de São Paulo, há um terreno com casas demolidas onde uma construtora pretende construir dois edifícios de 22 andares e três subsolos. Na parte de trás do espaço, por sua vez, existe a Praça Homero Silva, onde nasce o córrego Água Preta, que logo se torna canalizado e deságua no rio Tietê. Um coletivo de moradores do bairro está em uma luta para evitar que os prédios sejam erguidos, o que, segundo eles, prejudicaria extremamente a região da nascente e o meio ambiente da área.
No Dia Mundial da Água, celebrado nesta sexta-feira, a Gazeta conheceu o coletivo Ocupe & Abrace, que começou a atuar no local rebatizado informalmente como Praça da Nascente em 2013. Antes, explica a analista de sistema Mirian Mello Franco, o local era muito descuidado e temido pelos moradores da Pompeia. "Tinha muito lixo, muito documento jogado pelo chão, porque a praça era rota de fuga de ladrões. As pessoas não passavam aqui por medo. A gente começou a cuidar da praça, a catar o lixo, a plantar espécies nativas e a cuidar da nascente. Tudo feito por nós, pelos moradores, quase sem ajuda da prefeitura", diz.
Hoje, a praça se tornou um local bem cuidado e seguro. O Ocupe & Abrace também construiu dois lagos no local, que se tornaram habitats de várias espécies de animais, como pequenos peixes e sapos. Também não é raro ver pássaros como pica-paus e até gaviões pelas árvores.
De acordo com Mirian, a luta para manter a nascente e a praça intocadas não é fácil. Ela lembra que há uma lei que determina ser proibido fazer construções num raio de 50 metros de áreas de nascentes. Mas a construtora, segundo ela, alega que aquele local não é uma nascente, o que seria contrariado por diversos
documentos.
"A construtora conseguiu uma licença para a demolição das casas que havia no terreno em 2015, e agora estão tentando conseguir a licença para a construção. Nós vamos lutar para evitar isso", explica Mirian. As obras de construção do edifício ainda não
começaram.
A analista de sistema conta que a construção dos edifícios causaria uma série de problemas. Primeiro porque a construtora teria que drenar a água para não alagar os estacionamentos dos prédios. Depois, porque as árvores mais antigas da praça estão acostumar a pegar água numa região menos profunda. Se as águas forem baixadas, a consequência seria a morte de muitas espécies de árvores. Além disso, a altura dos prédios causaria uma sombra praticamente constante no local.
Outro que está na luta para que os prédios não subam é o fotógrafo e artista plástico Didier Lavialle, um francês que vive no Brasil há 26 anos, que explica que, caso a construção seja concretizada, "o lençol freático será baixado drasticamente".
Ele lembra que há uma tendência mundial de unir desenvolvimento econômico com proteção ao meio ambiente, mas que o Brasil ainda peca neste aspecto. "O Brasil lida mal com tudo o que é ecológico, com tudo o que é mata, com tudo o que é água. Um dia as pessoas morrerão de sede e não saberão nem por quê".
O francês conta que, na sua infância, o rio Sena era extremamente poluído. "Hoje, o Sena é um dos grandes símbolos e cartões-postais de Paris", destaca.
Para ele, o trabalho do coletivo Ocupe & Abrace ajudou a conscientizar muitas pessoas do bairro da Pompeia, que começaram a ver a praça como um ambiente de bem- estar, e não apenas um local para ser evitado ou temido. A partir do trabalho do coletivo, mais gente começou a frequentar o espaço.
Após as transformações na Praça da Nascente iniciadas em 2013, as pessoas passaram a fazer piqueniques e promover apresentações artísticas em volta das águas que brotam da terra. Mirian diz que o coletivo gastou muito pouco para promover as transformações no local. A boa vontade dos envolvidos é que foi fundamental. Agora, ela está confiante que a luta contra a construtora para manter o curso d'água intocado será bem-sucedida. "Nós vamos conseguir", diz, esperançosa. (Bruno Hoffmann)
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