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Ilustração | Ilustração de Nílson Araújo - Artista Plástico e Designer Gráfico porto-felicense
Nos áureos e poéticos tempos da velha Terra de Araritaguaba por aqui viveu um pedinte esperto e muito estimado, conhecido popularmente como Junjão. Diariamente Junjão circulava pelas ruas da cidade, algumas vezes acompanhado por um cachorro, seu fiel escudeiro, outras vezes sozinho. Com seu jeitão sisudo e ensimesmado estava sempre resmungando algumas palavras como se estivesse conversando consigo mesmo e, raramente, se dispunha a dialogar com outras pessoas.
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Junjão costumava visitar os estabelecimentos comerciais para pedir um dinheirinho, mas mesmo nessas ocasiões era direto e de poucas palavras. Via de regra entrava no estabelecimento comercial e ficava em silêncio, na expectativa de que sua simples presença fosse compreendida como um pedido e alguém lhe desse algum valor em dinheiro. Quando indagado sobre o que desejava, Junjão era franco e objetivo limitando-se, na maioria das vezes, a estender a mão na esperança de receber uma nota ou algumas moedas.
Não obstante o seu jeitão fechado e pouco comunicativo, Junjão era esperto, observador e conhecia sobejamente os estabelecimentos comerciais da cidade, a ponto de fazer suas visitas preferenciais e rigorosamente diárias àqueles que eram mais benevolentes nos donativos. Certa ocasião Junjão entrou em um dos estabelecimentos diariamente visitados e, ao receber o donativo, informou que no dia seguinte iria viajar, razão pela qual solicitou que lhe fosse adiantada a doação relativa ao “dia da viagem”. Desconfiado mas para encurtar a conversa, o proprietário do estabelecimento concordou e passou para Junjão, não só a contribuição do dia, como também adiantou o donativo do dia seguinte, que seria o dia da anunciada “viagem”.
Surpreendentemente, porém, no dia em que deveria estar “viajando”, eis que Junjão, no horário de costume, chegou ao estabelecimento comercial e ficou estático, apenas observando, no aguardo do recebimento do donativo diário! Nesse momento o dono do estabelecimento, surpreso e ao mesmo tempo curioso pela explicação que ouviria, rapidamente perguntou: Diga-me uma coisa Junjão! Você não me disse ontem que estaria viajando hoje e até me pediu que lhe adiantasse a contribuição do “dia da viagem”? Sem hesitar Junjão levantou o dedo indicador da mão esquerda e, no uso da perspicácia que lhe era peculiar, respondeu de pronto: PERDI O ÔNIBUS! Dito isso recebeu o esperado donativo e partiu, deixando no rosto do comerciante um vasto e inevitável sorriso de conformismo!
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Esse era o estimado e folclórico Junjão, o pedinte efetivamente perspicaz! Oh linda Terra de Araritaguaba / Das noites enluaradas / A reviver nas bandeiras / As tuas glórias passadas!
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