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Parque alagável de Qunli, na China, criado para reter, filtrar e devolver ao solo a água da chuva | Turenscape/Divulgação
Mais um verão. E outra vez as grandes cidades brasileiras, como São Paulo, sofrem com a tragédia anunciada das chuvas. Para além de jogar a culpa de tantos transtornos e mortes provocados por alagamentos e inundações no efeito das mudanças climáticas, é preciso nos debruçarmos sobre os problemas estruturais das nossas metrópoles – transformadas em verdadeiras selvas de pedra – e, a partir deles, pensarmos em formas criativas e de baixo custo capazes de, se não resolvê-los de vez, ao menos minimizá-los.
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Tomando São Paulo como exemplo, temos uma cidade construída em uma região fluvialmente rica e que, ao se desenvolver, priorizou as construções em concreto – negligenciando a conservação de áreas verdes – e a canalização e soterramento de rios, com um sistema de escoamento de água baseado em galerias. Com isso, hoje a maior parte do solo está impermeabilizado e não consegue absorver a água da chuva em grande quantidade. Da mesma forma, nosso sistema de galerias pluviais, obsoleto, não dá vazão ao enorme volume e força das chuvas que têm caído ultimamente.
De acordo com o urbanista Anderson Kazuo Nakano, cerca de 30% a 40% da água da chuva que atinge o centro expandido de São Paulo se infiltra no solo. O restante escorre para os rios Pinheiros, Tietê, Tamanduateí e Aricanduva, provocando os transbordamentos. O ideal, segundo ele, seria que 50% desse volume fosse absorvido pelo solo e os outros 25% fossem retidos por mais tempo.
Mas o que fazer para chegar a isso? A resposta vem do exemplo de diversas metrópoles chinesas, americanas e europeias, que estão adotando o conceito inovador de cidade-esponja. Área urbana que tem a capacidade de integrar a gestão da água nas políticas e projetos de planejamento urbanístico. Esse conceito parte da ideia de que as metrópoles lidam com a água de maneira errada, priorizando seu escoamento para os rios ao invés de assegurar espaço e tempo para que a água seja absorvida pelo solo.
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Para enfrentar ou evitar catástrofes, urbanistas têm rejeitado soluções tradicionais – baseadas em bocas de lobo e encanamentos – em favor de novas formas de garantir a drenagem da água. E as cidades-esponjas nos mostram vários exemplos disso. As soluções propostas dentro desse conceito envolvem desde a construção de parques alagáveis (áreas verdes que podem ficar alagadas durante um período do ano) até calçadas permeáveis (que ‘amortecem’ a força das águas), telhados verdes (grandes jardins no topo dos prédios construídos para absorver a densidade das chuvas) e praças-piscinas. Estas últimas são inovações colocadas em prática na cidade de Roterdã, na Holanda, e preveem a construção de dois piscinões submersos, que enchem com a água das chuvas. Caso eles não sejam suficientes, uma quadra de esportes, construída um pouco abaixo do nível da rua, se transforma em um piscinão temporário.
Essas são lições que São Paulo precisa aprender. E o Plano Diretor, a ser elaborado em 2023, é uma ótima oportunidade para pensarmos a questão.
*Cris Monteiro é vereadora em São Paulo pelo NOVO
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