Morador de rua morto por PMs sonhava em ser jogador de futebol

Jeferson de Souza, o jovem de 24 anos em situação de rua executado com tiros de fuzil por policiais militares no centro de São Paulo, nasceu no interior de Alagoas e tinha o sonho de ser jogador de futebol.

O caso aconteceu no dia 13 de julho no bairro do Brás, mas as imagens só foram divulgadas na última terça-feira (5/8) pela TV Globo.

As cenas, gravadas pelas câmeras corporais, mostram que os policiais militares mentiram ao justificar a execução durante a abordagem.

Ele foi morto com três tiros de fuzil ao estender as mãos com calma à frente do corpo, aparentemente se oferecendo para ser algemado. O caso ocorreu embaixo do viaduto 25 de Março.

Quem era Jeferson de Souza

O rapaz deixou Craíbas, no interior de Alagoas, em 2019, após a morte da mãe por câncer, para buscar trabalho na capital paulista enquanto mantinha o desejo de ser jogador. Ele também perdeu o pai, assassinado.

Em São Paulo, Jeferson conseguiu empregos em pizzarias. Mais tarde, virou usuário de drogas e foi viver na rua. A capital paulista tem quase 100 mil pessoas nessas condições.

“Quem estava ali para proteger, foi lá e tirou a vida dele. Nada justifica tirar a vida de um ser humano. Por que não prendeu se ele devia alguma coisa para a Justiça? Foi por 'malvadeza' mesmo que eles fizeram”, disse Micaele Soares, irmã da vítima, em entrevista à TV Globo.

A família está tentando levar o corpo de Jeferson de volta a Alagoas, mas esbarra nas dificuldades financeiras, já que o valor do translado é de cerca de R$ 15 mil. O corpo está em São Paulo há mais de um mês.

 “Desde que vi essas imagens, a cena está todinha na minha cabeça, não estou conseguindo dormir nem comer. É uma dor que não tem explicação. Que para sempre vai ficar marcado na minha vida, da forma que ele morreu, tão cruel”, afirmou Micaele.

PMs acusados

Os PMs Alan Wallace dos Santos Moreira, tenente da Força Tática, e o soldado Danilo Gehring se tornaram réus por homicídio qualificado. Eles estão presos preventivamente desde o mês passado.

Os policiais alegaram no dia do crime que a vítima tinha reagido a uma abordagem e tentado retirar a arma de um dos agentes antes de ser baleado. Contudo, as imagens revelam que os policiais mentiram.

Pelas imagens, Jeferson estava desarmado, acuado, e foi morto com três tiros de fuzil sem apresentar nenhuma ameaça.