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Como o berço do PT virou a casa da extrema direita? O curioso caso do ABC Paulista

Mesmo sendo o conhecidas pelo sindicalismo, quase todas as cidades do ABC são governadas pela direita

Gabriela Barbosa

06/05/2025 às 16:10

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A região onde Lula cresceu como sindicalista hoje é dominada pela direita

A região onde Lula cresceu como sindicalista hoje é dominada pela direita | Rep/Youtube e Ettore Chiereguini/Gazeta

Nas décadas de 1970 e 1980, o ABC Paulista se transformou num grande palco para o sindicalismo. O grande crescimento das indústrias uniu os trabalhadores, que lutavam por seus direitos. Mas, em 2025, o cenário é completamente diferente.

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As indústrias foram embora, a esquerda ficou enfraquecida e a extrema direita conquistou o seu espaço. Das sete cidades que compõem o Grande ABC, cinco são governadas por políticos da direita ou extrema direita. 

O governador de SP, Tarcísio de Freitas, demonstrou apoio ao candidato Taka Yamauchi, de Diadema, junto com Orlando Morando (ex-prefeito de São Bernardo) e Paulo Serra (ex-prefeito de Santo André) (Foto: Reprodução/Youtube)
O governador de SP, Tarcísio de Freitas, demonstrou apoio ao candidato Taka Yamauchi, de Diadema, junto com Orlando Morando (ex-prefeito de São Bernardo) e Paulo Serra (ex-prefeito de Santo André) (Foto: Reprodução/Youtube)
Lula foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC no final dos anos 1970 (Foto: Reprodução/Youtube)
Lula foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC no final dos anos 1970 (Foto: Reprodução/Youtube)
Hoje ainda existem sindicatos e greves, mas com menor força (Foto: Fotos Públicas)
Hoje ainda existem sindicatos e greves, mas com menor força (Foto: Fotos Públicas)
Multidões se reuniam nos anos 1980 para greves sindicais (Foto: Reprodução/Youtube)
Multidões se reuniam nos anos 1980 para greves sindicais (Foto: Reprodução/Youtube)
Guto Volpi, prefeito de Ribeirão Pires, teve o apoio do governador Tarcísio de Freitas na eleição (Foto: Reprodução/Youtube)
Guto Volpi, prefeito de Ribeirão Pires, teve o apoio do governador Tarcísio de Freitas na eleição (Foto: Reprodução/Youtube)

Mas, afinal, onde foi parar todo o espírito do sindicalismo e da esquerda? Rafael Villa, doutor e professor de Ciência Política da USP, explica, em entrevista à Gazeta, que o ABC segue a tendência política global, mas tem algumas particularidades.

O crescimento da extrema direita no mundo

A direita e a extrema direita vêm crescendo mundialmente. O principal exemplo disso é o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. O líder republicano  apoia abertamente pautas contra os direitos humanos e prega o conservadorismo, com um governo de personalidade extremista.

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Outro exemplo é a Alemanha, que será governada por um partido de extrema direita pela primeira vez desde o fim do nazismo em 1945. Mesmo um país que sofreu tanto com um regime direitista está seguindo essa tendência mundial.

Rafael Villa explica que o interesse da população pela extrema direita está diretamente relacionado ao enfraquecimento da economia, e compara o cenário com o período entre a primeira e a segunda guerras mundiais. 

Segundo o professor, quando há alta no desemprego, as promessas desses grupos ganham mais força.“Até mesmo as pessoas que não concordam 100% com as ideias da extrema direita acabam apoiando seus partidos, por conta da esperança de mais empregos e de uma mudança de vida”, explica.

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Sentimentos guardados

Villa ressalta que o conservadorismo não ganha força do nada. “Esses movimentos [de extrema-direita] conseguem dar sentido a crenças que pessoas já tinham guardadas em um baú, porque não eram aceitos na sociedade”.

Para o professor, grande parte dos eleitores da direita é composta de pessoas que já tinham pensamentos conservadores, mas que não os expressavam por medo de julgamento. 
Ele destaca, ainda, a importância dos líderes nesse cenário.“Quando essa pessoa encontra um líder que fala exatamente o que ela pensa, ela vai levar esse apoio ao voto, e assim são eleitas essas figuras”.

Lula foi um líder fundamental para as greves dos anos 1980 (Foto: Reprodução/Youtube)Lula foi um líder fundamental para as greves dos anos 1980 (Foto: Reprodução/Youtube)

O caso específico do ABC Paulista

Formado pelas cidades de São Bernardo do Campo, Santo André, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, o ABC cresceu exponencialmente a partir dos anos 1950.

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Indústrias multinacionais, especialmente montadoras, se instalaram na região. A cultura local foi criada junto com essas empresas, especialmente focada na sindicalização. Mais do que apenas representações operárias, os sindicatos acabaram se tornando referências nacionais, com grande poder político.

Apesar do grande triunfo, o ABC foi aos poucos sendo abandonado pelas indústrias. Em 2019, por exemplo, a Ford encerrou suas atividades em São Bernardo do Campo depois de mais de 50 anos de indústria ativa. Cerca de 750 trabalhadores foram dispensados.

A Volkswagen, tradicional da mesma cidade, demitiu 800 trabalhadores em 2015, apesar de continuar em atividade. Já a fábrica de caminhões da Mercedes Benz, na mesma cidade, demitiu 3,6 mil trabalhadores de uma vez em 2022.

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As demissões em massa da Mercedes geraram revolta nos trabalhadores (Foto: Fotos Públicas)As demissões em massa da Mercedes geraram revolta nos trabalhadores (Foto: Fotos Públicas)

Segundo Rafael Villa, isso mostra por que o ABC é um caso curioso. O fechamento em massa das empresas fez muitos trabalhadores mudarem de profissão, migrando da indústria para o setor de serviços.

“As multinacionais eram um porto-seguro para os trabalhadores. Eles acreditavam que teriam estabilidade trabalhando nelas, então o fechamento é um golpe muito grande para a população”, diz.

Desemprego e o fortalecimento da direita

Mas os trabalhadores não levaram esse golpe calados. Segundo o professor, a depressão econômica criou uma revolta contra os sindicatos e a esquerda. Muitos tiveram que mudar completamente o rumo de suas vidas e culparam essas entidades.

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“Houve uma redução significativa do poder aquisitivo das famílias e da qualidade de vida. É neste momento que os grupos políticos que estavam surgindo se aproveitam da fragilidade e fazem uma propaganda de mudança radical”. 

Unindo ideias que muitos já deixavam guardadas com uma promessa de vida melhor, os grupos de direita conseguiram conquistar massas de trabalhadores, antes ligados à esquerda e ao sindicalismo. 

Grande ABC nas eleições de 2024

A direita praticamente dominou as prefeituras da região. Nas últimas eleições municipais,seis das sete cidades passaram a ter  maioria direitista em suas câmaras.

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Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo; Taka Yamauchi, prefeito de Diadema; Orlando Morando, ex-prefeito de São Bernardo, e Paulo Serra, ex-prefeito de Santo André (Foto: Reprodução/Youtube)Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo; Taka Yamauchi, prefeito de Diadema; Orlando Morando, ex-prefeito de São Bernardo, e Paulo Serra, ex-prefeito de Santo André (Foto: Reprodução/Youtube)

São Bernardo, local onde o PT nasceu e ganhou força — e onde o presidente Lula morou maior parte da vida —, teve um segundo turno disputado por dois candidatos de direita. Marcelo Lima (Podemos) levou a prefeitura.

A composição da Câmara dos Vereadores não foi diferente. Das 28 cadeiras, 24 são ocupadas por partidos de direita. Apenas 24% dos votos para vereadores eleitos foram para candidatos esquerdistas.

A bancada conservadora também se consolidou em Santo André, São Caetano e Rio Grande da Serra. Até mesmo em Mauá, onde Marcelo Oliveira (PT) foi eleito, a Câmara é de maioria direitista.

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Em Ribeirão Pires o fenômeno foi ainda mais forte. Além do prefeito Guto Volpi (PL), os candidatos de direita ocupam 16 das 17 cadeiras da Câmara. A esquerda teve apenas 4,2% dos votos para eleitos. 

Apenas na cidade de Diadema a divisão está equilibrada. Por lá, 11 dos 21 vereadores são de partidos da esquerda. Isso mostra a mudança do cenário político local, onde partidos de direita nunca tiveram um espaço tão grande. 

Os prefeitos de Diadema sempre seguiram a pauta social, e a esquerda seguiu imbatível desde a redemocratização do Brasil. Mas a mudança brusca aconteceu em 2024, quando Taka Yamauchi (MDB), defensor das pautas direitistas, levou a eleição contra um candidato do PT.

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O Grande ABC tem uma história única e segue tendências eleitorais específicas. Apesar disso, a ascensão global da extrema direita já se reflete na região e promete conquistar ainda mais espaço. O que resta é a má fama do sindicalismo para alguns e a esperança que a esquerda se reestruture para outros.

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