Nilto Tatto
NELY
Publicado em 24/12/2019 Ã s 01:00
Atualizado em 24/12/2019 Ã s 12:53
Há pouco mais de 2 mil anos, nascia em Nazaré, na periferia da Galileia, um bebê provavelmente negro e seguramente pobre, que ao longo de sua vida foi perseguido, sofreu preconceito, violência e uma morte cruel que entraria para a história. Esta criança, com o tempo, se tornaria Cristo, o Deus encarnado, purificador dos pecados e salvador da humanidade.
Nas palavras de Frei Betto, "Jesus não morreu de alguma doença, deitado numa cama, nem de desastre de camelo, em uma esquina de Jerusalém. Foi preso, torturado, julgado por 2 poderes políticos e morto pelo Estado". Se fizermos um paralelo com os dias de hoje, o fato de não haver registros oficiais da existência de Jesus, por exemplo, nos remete às moradoras e moradores de rua das nossas grandes cidades; ou os jovens periféricos; indígenas; quilombolas e defensores dos direitos humanos, sistematicamente violentados, quando não assassinados e enterrados como indigentes.
Vinte séculos depois da morte de Jesus, a população negra e periférica se assemelha aos oprimidos com os quais Jesus convivia e defendia em seu tempo. Não só no Brasil, estas populações seguem sendo perseguidos, vítimas de toda sorte de preconceitos, tortura, encarceramento e morte violenta. Como diria Frei Beto, "Jesus foi um preso político", assim como são os jovens periféricos, negros que representam dois terços da população carcerária do nosso país. A prisão no por aqui tem cor, e 2 mil anos depois, continua sendo uma prisão política.
Que me perdoem os mais conservadores, mas o Natal é sim um ato político, porque Jesus, antes de tudo, não teria sido compreendido, se os seus discípulos deixassem de questionar as injustiças sociais e a indiferença com nossos semelhantes. Jesus foi e continua sendo um ser político e o seu nascimento, quando se dá nos corações e mentes dos nossos irmãos e irmãs, já nos dias de hoje, continua sendo a maior transgressão ao estado das coisas. Jesus é mudança, é transformação, é revolução. Jesus é a possibilidade de um feliz Natal.
*Nilto Tatto é deputado federal pelo PT-SP
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