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CPI DA COVID

Médica diz à CPI desconhecer por que foi barrada na Saúde

Luana Araújo afirmou que desconhece a razão de não ter sido efetivamente nomeada para o cargo dez dias depois de ter sido anunciada por ministro

Bruno Hoffmann

Publicado em 02/06/2021 às 15:55

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Médica infectologista Luana Araújo / / Jefferson Rudy/Agência Senado

A médica Luana Araújo afirmou nesta quarta-feira (2) à CPI da Covid do Senado que desconhece a razão de não ter sido efetivamente nomeada para o cargo dez dias depois de ter sido anunciada pelo ministro Marcelo Queiroga (Saúde).

Ela, que assumiria o cargo de secretária extraordinária de enfrentamento à Covid-19, disse que nunca recebeu uma explicação detalhada sobre o seu desligamento do cargo. No entanto, citou que o ministro disse que seu nome "não ia passar pela Casa Civil".

Aos senadores a médica também defendeu a ciência como parâmetro de ações de combate à Covid e reforçou que não há nenhuma opção farmacológica para o tratamento da doença em estágio inicial.

A médica infectologista foi convocada a comparecer diante da comissão, pois os senadores queriam questionar se houve interferência do Palácio do Planalto em sua demissão, após apenas 10 dias no cargo mesmo sem ter sido nomeada oficialmente.

Para o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), o depoimento atestou que ainda hoje o Ministério da Saúde não tem autonomia para definir políticas públicas e a própria equipe.

Em suas redes sociais -que depois deletou- a médica era defensora de medidas como uso de máscaras, distanciamento social e condenava o uso de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19, como a hidroxicloroquina.

Ao ser questionada por Renan, ela informou não saber se houve interferência do presidente Jair Bolsonaro, disse que não o conheceu pessoalmente e nunca discutiu assuntos ligados ao tratamento precoce com ninguém do governo.

Por outro lado, afirmou que o próprio ministro Queiroga indicou que a decisão não era dele, que havia sido quem a convidou. "Ele [Queiroga] me disse isto: que lamentava, mas que meu nome não ia passar pela Casa Civil", afirmou. O ministro chefe da Casa Civil na época era o general Walter Braga Netto.

Após citar a pasta, a médica relativizou sua fala, afirmando que citou a pasta pois entendia que aquela seria a instância em que as indicações são aprovadas ou não, embora mantenha que a indicação se deu fora da estrutura do ministério.

"Ele [Queiroga] me falou que tinha optado pela minha nomeação e que obviamente não duvidava da minha capacidade técnica, muito pelo contrário, que eu tinha sido de muita utilidade. Mas que infelizmente a minha nomeação não havia sido aprovada e que ele lamentavelmente precisava abrir mão de mim", completou.
Luana Araújo reforçou que Queiroga não deu mais detalhes sobre o seu desligamento ou os motivos que levaram à recusa de seu nome.

"Eu, realmente, gostaria de saber. Honestamente, não me foi comunicado qual foi a razão pela qual a minha nomeação não foi aprovada. Eu, simplesmente, fui comunicada de que, infelizmente, essa nomeação não sairia", afirmou.

A médica foi questionada, mas senadores avaliam que ela não forneceu informações que pudessem fortalecer algumas linhas de investigação da CPI, como a existência de um gabinete paralelo ou a estratégia para atingir uma imunidade de rebanho.

Por outro lado, Renan Calheiros acredita que seu depoimento ajudou a confirmar a percepção de falta de autonomia do Ministério da Saúde, para definir a equipe que vai atuar no enfrentamento à pandemia e também a estratégia a ser adotada.

Embora ela não tenha dito claramente, os senadores avaliam que está claro que sua demissão está relacionada com as suas posições em defesa do distanciamento social e da hidroxicloroquina. Antes de ser nomeada, ela havia escrito em suas redes sociais que o tratamento precoce configurava um "neocurandeirismo" ou um iluminismo às avessas".

A médica repetiu a sua visão sobre o tratamento precoce aos senadores. "Todos nós somos absolutamente a favor de uma terapia precoce que exista. Quando ela não existe, ela não pode se tornar uma política de saúde pública", disse.

Luana Araújo ainda usou palavras duras para descrever a atual discussão em torno da hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19.
"Essa é uma discussão delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente", afirmou.

"Quando eu disse que um ano atrás nós estávamos na vanguarda da estupidez mundial, eu infelizmente ainda mantenho isso em vários aspectos, porque nós ainda estamos aqui discutindo uma coisa que não tem cabimento. É como se a gente estivesse escolhendo de que borda da Terra plana a gente vai voar, não tem lógica", completou.

O depoimento dela aconteceu um dia após a oitiva da médica Nise Yamaguchi, defensora da hidroxicloroquina

A ex-secretária defendeu a ciência em diversos momentos de seu depoimento e criticou comportamentos negacionistas, afirmando que uma mistura entre "falta de informação, desespero e arrogância" pode ser letal.

"Ciência não tem lado, ciência é bem ou mal feita, ciência é ferramenta de produção de conhecimento e educação para servir à população, priorizando a vida e a qualidade de vida sempre como objetivo maior. Esta distância ou oposição entre populações e ciência não existe", afirmou.

Por dois momentos, a ex-secretária foi confrontada por falas negacionistas do presidente Jair Bolsonaro. Ela repetiu que não queria personificar suas críticas em uma única pessoa, mas afirmou que "dói" ter contato com essas visões.

"Na hora que qualquer pessoa, independente do seu cargo e de sua posição social, defende algo que não tem comprovação científica você expõe a população de seu grupo a uma situação de extrema vulnerabilidade. Todo mundo que diz isso tem responsabilidade sobre o que acontece depois", disse.

A ex-secretária também rebateu a noção de que médicos estão totalmente liberados para receitar medicamentos sem comprovação de eficácia para o tratamento da Covid-19.

Luana Araújo defendeu ferrenhamente a autonomia dos médicos, mas afirmou que isso não configura uma "licença para experimentação".

"A autonomia precisa ser defendida sim, mas com base em alguns pilares, do conhecimento, da plausibilidade teórica, do volume de conhecimento científico acumulado até aquele momento, da ética e da responsabilização", completou.

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