Entre em nosso grupo
2
Britânico, americano, australiano... ou o seu mesmo? entenda por que o inglês não tem dono (e por que isso é libertador)
02/11/2025 às 06:00
Continua depois da publicidade
Por décadas, fomos ensinados a acreditar que havia uma forma "correta" de falar o idioma | Freepik
Qual tipo de inglês devemos aprender? O britânico ou o americano? Por décadas, fomos ensinados a acreditar que havia uma forma “correta” de falar o idioma. Mas será que isso ainda faz sentido em pleno 2025? A verdade é que o inglês já não pertence apenas aos países onde ele nasceu. Hoje, é usado em quase todos os cantos do planeta como segunda ou terceira língua.
Continua depois da publicidade
Na prática, isso significa que um brasileiro pode precisar do inglês não para falar com alguém de Londres, mas para se comunicar com um francês em uma conferência, um alemão em uma reunião de negócios ou um japonês em uma chamada de vídeo. Nesse cenário, o inglês deixa de ser “britânico” ou “americano” e passa a ser simplesmente a língua de quem fala.
Se você já viajou para fora do Brasil, talvez tenha percebido que, em muitos lugares, não são os nativos que dominam as conversas em inglês. É no aeroporto de Lisboa, no hostel em Berlim ou na feira de tecnologia em Xangai que vemos pessoas de diferentes sotaques e vocabulários usando o idioma como ponte para se conectar.
Convenhamos: o inglês falado em uma reunião com gente da Polônia, da Argentina e da Índia tem pouco a ver com o que ouvimos em filmes de Hollywood. Ali, o que importa não é ter um sotaque “perfeito”, mas ser claro, objetivo e, acima de tudo, compreensível.
Continua depois da publicidade
Nós, brasileiros, temos uma relação especial com o inglês. Somos apaixonados por música, cinema e tecnologia, e tudo isso chega primeiro nessa língua. Quantos de nós não crescemos cantando Beatles, Queen ou Beyoncé sem entender direito o que estávamos dizendo? Quem nunca se arriscou em uma conversa de viagem com frases quebradas, mas que, no fim, deram conta do recado?
Ainda assim, carregamos um peso cultural: a ideia de que precisamos falar como nativos para sermos “bons de inglês”. E é justamente esse perfeccionismo que gera bloqueio. Quantos deixam de falar, mesmo sabendo o básico, por medo de errar o “th” de think ou de confundir beach com bitch?
Mas sejamos realistas: se a função do inglês é conectar, por que deveríamos nos envergonhar de ter sotaque? O sotaque é parte da nossa identidade. O idioma que chamamos de “inglês” é falado oficialmente em mais de 70 países, com dezenas de sotaques, expressões e particularidades culturais. A diferença entre o inglês britânico e o americano é só a ponta do iceberg. Há também o australiano, o canadense, o irlandês, o sul-africano, o indiano… e o inglês global falado por milhões de pessoas que, assim como nós, aprendem como segunda língua. Aliás, o inglês é a língua com mais falantes não nativos do mundo!
Continua depois da publicidade
Então, qual aprender? A resposta curta é: aquele que fizer mais sentido para a sua realidade. Se você consome séries americanas, trabalha com empresas dos Estados Unidos ou sonha em visitar Nova York, o inglês americano talvez soe mais natural.
Se você tem afinidade com o Reino Unido, cultura britânica ou vai estudar por lá, o britânico é o caminho.
Mas o mais importante é não se prender à ideia de que precisa escolher um “lado”. Em um mundo globalizado, a comunicação é híbrida. Você pode assistir a Friends, ouvir Adele e conversar com um indiano no Zoom, tudo no mesmo dia. Isso é o que os linguistas chamam de World English, ou “inglês do mundo”. E ele é de quem fala.
Continua depois da publicidade
No fundo, o que realmente importa não é se você diz schedule com o “sh” americano ou com o “sk” britânico. É se você consegue marcar um compromisso.
Portanto, da próxima vez que sentir aquele frio na barriga por não falar como um britânico ou como um ator de série americana, lembre-se: o inglês não tem dono, e ele é seu também. Se você consegue pedir uma informação em viagem, escrever um e-mail de trabalho ou se emocionar entendendo a letra de uma música, já está participando desta comunidade global.
No fim das contas, comunicação não é sobre perfeição — é sobre conexão. E nisso nós, brasileiros, temos uma vantagem natural: sabemos improvisar, sorrir e nos fazer entender. O sotaque é a nossa impressão digital na fala, um lembrete de onde viemos e do caminho que percorremos para chegar até aqui. Cada som carrega um pedaço da nossa história, e é justamente isso que nos torna únicos quando falamos outra língua.
Continua depois da publicidade
Carina Fragozo é doutora em Linguística pela USP, criadora do canal English in Brazil, com mais de 2 milhões de inscritos no YouTube, e fundadora do curso online English in Brazil.
Continua depois da publicidade
Continua depois da publicidade