A fome que já atinge 61 milhões de brasileiros (FAO) avança até no campo, onde são produzidos os alimentos que saciam as cidades. E o motivo é a escalada no valor de insumos básicos. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal, desde março de 2021 o preço do milho já subiu 52% no Brasil. Pior foi a soja, que ficou 114% mais cara. Essa inflação dos grãos está levando pequenos sitiantes a abandonar a criação de galinhas e porcos, que supriam suas famílias com ovos e carne...

Importante frisar que essa carestia começou um ano antes da Guerra na Ucrânia, argumento usado para justificar a inflação dos alimentos no Brasil.

Outro mito que precisa ser derrubado é que os preços estão altos em todo o mundo, numa tentativa de relativizar situações diferentes em cada país.

Segundo a Agência Reuters de notícias, nos Estados Unidos a maior inflação em 40 anos se deve ao aquecimento no mercado de trabalho, fato que provoca aumento nos salários, amplia o consumo e incentiva a alta nos preços.

Aqui, a inflação não pode mais ser creditada ao clima adverso como em 2021, muito menos ao aumento no poder de compra do trabalhador.

No caso específico do leite, dos ovos, das carnes e das rações para animais domésticos, a carestia é reflexo do aumento no valor dos grãos.

E o Brasil é o maior exportador mundial de soja, um dos maiores produtores globais de milho e está colhendo uma safra recorde...

Portanto, a inflação dos alimentos e o avanço da fome poderiam ser combatidos, caso o Governo Federal tivesse a mesma determinação que demonstrou para forçar a queda no preço da gasolina e do diesel.

Mas, o Governo e parte da classe média desinformada nas cidades comemoram os recordes sucessivos na exportação de grãos...

Só em 2022, o Brasil deverá aumentar em 105% os embarques de milho para o exterior. Isso vai retirar do mercado interno 43 milhões de toneladas do cereal.

E essa montanha de milho alimenta europeus, japoneses, iranianos e mexicanos. Ainda este ano, o Brasil deve começar a exportar também para a China... 

Leite está caro?...

Responsável pela revolução que tornou o Brasil autossuficiente em leite a partir dos anos 1980, a Embrapa revelou que nos últimos dois anos o custo de produção nas fazendas cresceu 62%.

...a culpa é do...

E, segundo a empresa pública de pesquisa, mesmo caro para o consumidor, o valor do leite não tem coberto nem os custos de produção. Resultado: pecuaristas estão reduzindo a complementação dada às vacas, à base de soja e milho.

...agro exportador...

Segundo o IBGE, a captação de leite pelos laticínios caiu 10,5% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2021. Essa foi a maior queda desde o início da pesquisa, em 1997.

...e vai subir mais!

Como antecipou esta coluna em maio, o preço de leite e derivados deve continuar subindo pelo menos até novembro, após a volta das chuvas na primavera...

Filosofia do campo:

“É desta massa que nós somos feitos: metade de indiferença, outra metade de maldade”, José Saramago (1922/2010), escritor português, prêmio Nobel de Literatura/1998, em Ensaio sobre a Cegueira.