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Tragédia aconteceu em 5 de novembro de 2015 | Arquivo/ Agência Brasil
Há dez anos, em 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, devastou o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, Minas Gerais.
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A lama tóxica percorreu cerca de 600 quilômetros até o mar, deixando 19 mortos e impactos que ainda reverberam.
A barragem de Fundão foi construída para armazenar rejeitos da extração de ferro, um material sem valor comercial, mas de alto risco ambiental.
A estrutura, administrada pela Samarco, controlada pela Vale e pela BHP Billiton, entrou em operação em 2008 e já apresentava infiltrações poucos meses depois.
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Segundo o Ministério Público Federal, falhas no sistema de drenagem e obras não licenciadas contribuíram para o colapso. Quando a barragem cedeu, a enxurrada de rejeitos destruiu Bento Rodrigues e contaminou o Rio Doce, um dos mais importantes do Sudeste brasileiro.
A onda de lama percorreu dezenas de municípios entre Minas Gerais e Espírito Santo, destruindo populações de peixes estimadas em mais de 11 toneladas e comprometendo a subsistência de milhares de famílias que viviam da pesca, agricultura e turismo.
Relatórios oficiais indicam que o colapso não foi um acidente inevitável, mas resultado de falhas estruturais e decisões empresariais arriscadas. Segundo o Conselho Nacional dos Direitos Humanos, mais de 300 mil pessoas foram afetadas direta ou indiretamente pela tragédia.
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Em 2024, nove anos após o desastre, a Justiça Federal absolveu os réus. A juíza Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho afirmou que “não ficou comprovado o nexo de causalidade entre as condutas e o resultado”.
O Ministério Público Federal recorreu da decisão, que ainda aguarda julgamento.
Para o advogado criminalista Paulo Crosara, “as defesas conseguiram provar que uma testemunha havia sido instruída indevidamente, o que enfraqueceu a acusação”. O episódio reacendeu o debate sobre a impunidade em crimes ambientais no País.
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As empresas responsáveis criaram, em 2016, a Fundação Renova, encarregada de gerenciar as ações de compensação.
A atuação da entidade, no entanto, é alvo de críticas e acusações de lentidão. Moradores afirmam que a fundação ignora direitos e adia acordos, favorecendo interesses das mineradoras. Críticas recorrentes incluem:
Segundo depoimentos à Assembleia Legislativa de Minas Gerais, a Renova teria “criminalizado” vítimas e tentado silenciar lideranças comunitárias. Em muitos locais, as ações ambientais avançaram, mas a recuperação do Rio Doce segue distante do ideal.
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Somente em 2025, dez anos após o rompimento, as primeiras casas do novo Bento Rodrigues começaram a ser entregues. Foram 338 imóveis, incluindo residências, comércios e espaços públicos, como escolas e praças. Apesar das novas estruturas, o sentimento dos moradores continua dividido.
“Está diferente. A comunidade não é mais unida como antes”, disse Darlisa Azevedo, moradora local, ao portal Itatiaia. O novo distrito é maior e mais moderno, mas perdeu o espírito de vizinhança que marcava a vida no antigo vilarejo.
Ao mesmo portal, o psicanalista René Dentz, que acompanhou os atingidos, explica que “as pessoas ali perderam duas coisas principais: a terra e a comunidade. E a terra, para elas, é quase uma extensão do corpo”.
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Dez anos depois, a lama ainda permanece em partes do leito do Rio Doce. Segundo o Comitê da Bacia Hidrográfica, metais pesados continuam sendo liberados lentamente, contaminando o solo e comprometendo o abastecimento de água em várias regiões.
O impacto também é emocional. Muitos atingidos relatam dificuldades de adaptação e traumas persistentes. “Faltou apoio psicológico estruturado, alguém para acompanhar esse recomeço”, disse ao portal Itatiaia o empresário Dan Mol, que perdeu casa e plantação em Paracatu de Baixo.
Para especialistas, a tragédia de Mariana deve servir como alerta permanente sobre os riscos da mineração descontrolada e a importância da fiscalização ambiental. Estudos da Universidade Federal de Ouro Preto indicam que o rompimento foi resultado de falhas que poderiam ter sido evitadas.
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O caso de Mariana mudou como o Brasil enxerga o impacto das barragens, mas também expôs o ritmo lento da justiça em julgar ações e da reparação ambiental. Passados dez anos, o País ainda busca respostas para o maior desastre ambiental de sua história.
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