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Cotidiano
Pesquisa TIC Domicílios mostra que desigualdades diminuíram, mas Brasil ainda possui 35,5 milhões de pessoas sem acesso à rede
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Levantamento mostra que há diferenças na frequência de acesso entre as classes sociais | Cléversom Oliveira /MCom
A 17ª edição da Pesquisa sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos Domicílios Brasileiros (TIC Domicílios), divulgada na última terça-feira (21), mostra que as desigualdades de acesso à internet diminuíram no Brasil, mas ainda é grande, com 35,5 milhões de pessoas sem acesso à rede.
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Os pesquisadores coletaram dados entre os meses de outubro de 2021 e março de 2022 e apuraram também que enquanto 100% dos domicílios de classe A e 98% de classe B possuem acesso à internet, este percentual cai para 89% na classe C e atinge somente 61% entre os domicílios das classes D/E.
O levantamento mostra ainda que há diferenças na frequência de acesso entre as classes sociais, com 9,6 milhões de pessoas que pouco acessam à rede, ou acessam apenas uma vez ao mês.
“Enquanto grande parte da população das classes A e B faz uso diário da internet, à medida que vamos para as classes C e D/E aumentam tanto a proporção de uso menos frequente da internet, que não está disponível [na mesma medida], quanto o de não usuários”, diz Fabio Storino, coordenador da TIC Domicílios.
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As razões da desigualdade
Na opinião de Storino, a desigualdade de acesso reflete outras desigualdades presentes em nossa sociedade.
“Os dados da pesquisa revelam que as desigualdades digitais assumem contornos parecidos com outras desigualdades sociais já existentes na sociedade. Por exemplo, uma proporção menor de acesso à internet a partir de múltiplos dispositivos por usuários negros em relação aos brancos, uma proporção maior de homens usando a internet para atividades de trabalho, uma proporção menor de domicílios das classes D/E com computador ou uma proporção menor de banda larga fixa nos domicílios do Norte e Nordeste do país”, comenta.
O engenheiro, com 30 anos de experiência na área de Informática e Telecomunicações, Marcelo Succi, professor nos cursos de Engenharia, Administração e Design da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), razões econômicas, geográficas e empresariais explicam a desigualdade de acesso no Brasil.
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“As desigualdades em termos de acesso ainda são grandes no país e envolvem razões econômicas (você precisa, no mínimo, ter dinheiro para comprar um pacote de dados num celular pré-pago para ter acesso à internet), geográficas e empresariais, na medida que é mais lucrativo para as operadores de telecomunicações expandir a rede de acesso à telefonia/internet em zonas mais adensadas, como as urbanas. Ou seja, custa caro levar a internet a localidades mais distantes, e se houver poucos usuários nestas localidades o investimento não compensa”, explica o professor.
Impactos
A falta de acesso à internet, ou a dificuldade de acesso à internet de boa qualidade, vai muito além do que não conseguir enviar um e-mail ou acessar a rede social do momento, ela pode trazer consequências graves para os indivíduos.
“Embora as desigualdades digitais sejam fruto ou reflexo de outras desigualdades, elas também são produtoras ou aceleradoras de outras desigualdades, na medida em que a falta de acesso ou o acesso precário à internet privam as pessoas de acesso a muitas oportunidades numa sociedade cada vez mais digital”, argumenta Storino.
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Succi completa, lembrando da chamada exclusão digital. “A internet hoje dá acesso a uma enorme quantidade de serviços, oportunidades e facilidades, os quais obviamente auxiliam a vida das pessoas e até impactam no exercício da cidadania. A falta de acesso provoca a exclusão digital, que prejudica até mesmo a plenitude da vida em sociedade. Nos estágios mais graves no início da pandemia, por exemplo, o auxílio emergencial para a população mais carente só podia ser solicitado pela internet. Deste modo, quem não dispusesse de acesso tinha que contar com o auxílio de outras pessoas para pedir o benefício. E mesmo assim este cadastro era facilitado para aqueles que dispunham, de alguma maneira, de algum tipo de acesso pela internet com conexão mais rápida e estável. Situação parecida, como todos observaram, foi vista nas aulas remotas. Famílias com maior poder aquisitivo puderam disponibilizar recursos adequados para seus filhos acompanharem as aulas remotas, enquanto aqueles sem acesso à internet ficaram sem aulas no período.”
Soluções
Ambos os entrevistados ressaltam que é importante a promoção de políticas públicas para atenuar o problema.
“É preciso garantir não apenas que as pessoas tenham acesso, mas que esse acesso seja de qualidade (com velocidade e quantidade de dados adequadas), esteja disponível sempre que desejado ou necessário, e seja feito a partir de um dispositivo adequado”, diz Storino.
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“Especificamente para acesso à internet (de qualidade) pode se obter ganhos atacando os principais fatores de desigualdade para acesso, que dizem no final respeito a aspectos econômicos e negociais. Além disso, o Estado deve atuar no sentido de incentivar a concorrência entre as operadores de telecomunicações, para diminuir o custo de acesso, além de também criar condições para que a população consiga adquirir estas facilidades”, acrescenta Succi.
Rápida, mas cara
O preço é o impeditivo mais apontado por quem não tem acesso à internet e um estudo divulgado pela plataforma CupomValido.com.br corrobora essa questão.
Segundo o levantamento da plataforma de descontos, o Brasil é o terceiro país com a internet mais rápida da América Latina, porém um dos últimos com relação ao custo.
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Por aqui, a velocidade média da rede mundial de computadores é de 90 Mbps, fazendo com que o país só perca para o Chile (197 Mbps) e Uruguai (91 Mbps). Já quando analisado o tempo de trabalho necessário para adquirir o plano de internet mais barato, o Brasil ocupa a 78ª posição entre 100 países pesquisados em todo mundo, visto que os brasileiros precisam trabalhar 411 minutos, ou 6 horas e 51 minutos, para pagar o plano mais barato de internet do país.
Israel tem a internet mais barata, com seus cidadãos precisando trabalhar apenas 19 minutos para adquirir o plano mais em conta. A Nigéria, por outro lado, possui a internet mais cara, já que por lá é preciso trabalhar mais de 35 horas por mês para contratar o plano mais acessível.
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