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Cotidiano
A revisão de estudos sobre o tema foi feita por cientistas de Harvard, dos EUA, e da Universidade Flinders, da Austrália, com 12 checagens desde 2018
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Os autores pontuam também que não foram analisados os efeitos dos avisos de gatilho a longo prazo e nem seu impacto em populações específicas | Unsplash/@markusspiske
Os chamados "avisos de gatilho" são uma ferramenta utilizada no início de textos, filmes e séries para alertar que aquele conteúdo pode provocar crises de ansiedade por despertar memórias relacionadas a eventos traumáticos. Nas redes sociais, as pessoas normalmente utilizam o termo em português ou simplesmente escrevem "TW", a abreviação da expressão em inglês "trigger warning".
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Apesar da boa intenção no uso desse recurso, uma nova revisão de estudos feita por cientistas da Universidade Harvard, dos Estados Unidos, e da Universidade Flinders, da Austrália, sugere que eles não são efetivos. Segundo os pesquisadores, além de não prevenir esses problemas, esses alertas podem por si sós acabar despertando ansiedade nos usuários.
O trabalho foi feito a partir da checagem de 12 estudos, publicados desde 2018, que verificavam o efeito dos avisos de gatilho incluídos em diversos tipos de mídia: notícias, trechos de livro, fotos, vídeos e filmes.
Então, os estudiosos compararam alguns aspectos para entender quão efetivo são esses alertas. Eles constataram que a maioria dos voluntários não deixava de consumir os conteúdos mesmo quando havia "trigger warnings" e que os alertas não geravam uma melhora da compreensão sobre os temas sensíveis abordados nas mídias. O sinal também não ajudou a reduzir as emoções negativas sentidas ao visualizar os materiais.
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Além disso, ao tentar evitar que os participantes ficassem ansiosos devido ao tema tratado nos conteúdos, eles acabavam ficando ansiosos por causa do alerta em si.
"Clinicamente, a gente não consegue dizer que os avisos de gatilho fazem com que as pessoas deixem de ver [o conteúdo]. Na realidade, eu percebo que o aviso mobiliza uma certa curiosidade no paciente que tem crises de ansiedade e pânico. Ele já fica vulnerável para receber aquela informação, imaginando todas as possíveis catástrofes que vão vir", comenta Lala Fonseca, psicóloga e terapeuta cognitiva comportamental em São Paulo (SP).
Na visão do psiquiatra Rodrigo Martins Leite, coordenador do Prosol (Programa de Psiquiatria Social e Cultural) do Ipq-HC (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas), em São Paulo, esses avisos foram criados para atender uma demanda da sociedade de garantir o respeito à singularidade e o sofrimento das pessoas.
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"Uma das estratégias é oferecer uma exposição gradual dos indivíduos, com a ideia de que eles possam aprender a lidar com os gatilhos e se fortalecer no enfrentamento das situações de estresse", afirma.
Apesar de os resultados da revisão estarem de acordo com as evidências científicas, há algumas limitações. A começar pelo fato de ele estar em fase de preprint, ou seja ainda não foi aprovado por pares e publicado em um periódico científico.
Os autores pontuam também que não foram analisados os efeitos dos avisos de gatilho a longo prazo e nem seu impacto em populações específicas, como vítimas de abuso sexual na infância.
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