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O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. | Reuters/Dylan Martinez/AB
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, pediu "desculpas sinceras" nesta quarta-feira (12) ao admitir pela primeira vez que furou as regras de confinamento ao participar de uma festa em Downing Street, sua residência oficial, enquanto o país era exortado a se isolar para a contenção da pandemia.
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O caso veio à tona quando os jornais britânicos The Guardian e The Independent fizeram uma investigação apontando que cerca de 20 funcionários do governo fizeram uma festa em maio de 2020.
No mês passado, uma foto do evento - regado a queijo e vinho - mostrava o premiê no jardim da residência oficial, o que contrariava sua versão de que não havia ocorrido festa alguma.
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Na última segunda-feira (10), a crise de imagem de Boris se agravou quando a rede britânica ITV divulgou um email enviado pelo secretário particular do premiê convidando ao menos 100 funcionários do governo para a ocasião.
"Depois de um período incrivelmente movimentado, seria bom aproveitar ao máximo o clima agradável e tomar, com distanciamento social, algumas bebidas, nos jardins do número 10 [referência ao endereço 10, Downing Street], nesta noite", dizia a mensagem enviada por Martin Reynolds. "Por favor, junte-se a nós a partir das 18h e traga sua própria bebida!"
À época, vigoravam restrições severas impostas pelo governo para tentar frear a disseminação do coronavírus. Elas incluíam o veto ao funcionamento de bares e restaurantes e proibiam reuniões de mais de duas pessoas residentes em casas diferentes.
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Diante do Parlamento, Boris disse nesta quarta que a indignação que as revelações causaram é compreensível. "Entendo a raiva que eles sentem de mim pelo governo que lidero quando pensam que em Downing Street as regras não estão sendo seguidas adequadamente pelas pessoas que fazem as regras."
Na versão do premiê, ele pensou que o evento era uma reunião de trabalho, já que o jardim da residência oficial funciona, segundo ele, como uma extensão do escritório. Boris disse que lá permaneceu por 25 minutos para agradecer aos funcionários e, depois, voltou a seu gabinete.
"Olhando em retrospecto, eu deveria ter mandado todos de volta para dentro, deveria ter encontrado outra forma de agradecê-los e deveria ter reconhecido que, ainda que aquilo tecnicamente estivesse dentro das orientações [por ser um ambiente aberto], haveria milhões e milhões de pessoas que não veriam as coisas assim."
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"Pessoas que sofreram terrivelmente", continuou o premiê, "pessoas que foram proibidas de encontrar seus entes queridos, em ambientes internos ou externos; e a eles e a esta Casa eu ofereço minhas sinceras desculpas."
A admissão e o pedido de desculpas, no entanto, não acalmaram os ânimos dos parlamentares que já vinham submetendo o premiê a um processo de fritura nos últimos meses. A fala de Boris provocou vaias e risadas no Parlamento, em especial dos legisladores da oposição.
"A festa acabou, primeiro-ministro", disse Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, acrescentando que Boris é um homem sem vergonha e que o público o considera um mentiroso. Para ele, a questão pendente é se o premiê será deposto pelo partido, pela opinião pública ou se agirá com decência e renunciará.
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"Depois de meses escondendo a verdade, o espetáculo patético de um homem que ficou sem estrada. Sua defesa de que ele não percebeu que estava em uma festa é tão ridícula que chega a ser ofensiva para o público britânico."
Mesmo entre os parlamentares do Partido Conservador, o mesmo de Boris, houve novas manifestações de descontentamento com a postura do premiê. Um deles disse, em anonimato, à agência de notícias Reuters que o navio do premiê está inclinando, mas ainda não afundou.
O correligionário Christopher Chope descreveu a declaração de Boris como "o mais abjeto pedido de desculpas que ele já ouviu", e Roger Gale, outro colega de legenda do premiê, afirmou que, politicamente, Boris Johnson é um "morto-vivo".
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O primeiro-ministro já foi o astro do Partido Conservador. Ele costuma ser creditado como o principal responsável pela ampla vitória nas eleições de 2019 e foi o principal porta-voz da campanha pelo brexit, o divórcio entre Reino Unido e União Europeia. Agora, é acusado de estar desperdiçando todo o capital político conquistado.
A série recente de escândalos começou quando veio à tona outra festa que teria sido realizada em Downing Street durante a época de Natal de 2020, quando celebrações presenciais estavam proibidas em razão de restrições sanitárias. O episódio levou à renúncia de uma assessora de Boris.
No mês passado, a derrota eleitoral do Partido Conservador em uma região que era seu reduto político há 200 anos também foi um símbolo da imagem em queda do premiê. Na mesma semana, o governo sofreu mais uma baixa: David Frost, ministro do brexit, renunciou alegando preocupação com os rumos da gestão de Boris.
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Duas pesquisas de opinião pública divulgadas nesta terça apontam que mais da metade dos entrevistados defendem que o premiê deve deixar o cargo. Analistas consideram, porém, que a renúncia é improvável, em parte devido à habilidade de Boris de escapar de crises, mas também devido à ausência de um nome entre os conservadores que reúna apoio suficiente para formar maioria no Parlamento.
Boris Johnson pode ser deposto?
Sim, mas o processo é burocrático e demanda articulação política além dos bastidores. Para isso acontecer, ao menos 15% da bancada do Partido Conservador (55 dos 361 correligionários de Boris) no Parlamento precisa escrever cartas ao órgão conhecido como Comitê de 1922. Se houver esse quórum, é convocado o que o sistema parlamentarista chama de "voto de confiança".
Como funciona o voto de confiança?
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As cartas ao Comitê de 1922 são confidenciais, então a única pessoa que sabe informar quantos pedidos pelo voto de confiança foram enviados é o presidente do órgão, Graham Brady. É ele também quem decide a data da possível votação, em consulta com o líder do Partido Conservador.
Em 2018, quando a então primeira-ministra Theresa May enfrentou um voto de confiança, a votação foi realizada no mesmo dia que o presidente do Comitê anunciou ter recebido cartas suficientes para dar início ao processo.
Aberta a votação, todos os parlamentares conservadores podem votar a favor ou contra Boris. Se o premiê vencer, ele permanece no cargo e não pode ser novamente contestado pelos próximos 12 meses. Se perder, é forçado a renunciar e impedido de concorrer na escolha do próximo líder.
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