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Cotidiano

'CALÇADA BOA GARANTE SEGURANÇA'

'META OUSADA'. Secretário municipal da Pessoa com Deficiência explica o programa da Prefeitura de São Paulo que quer tornar acessíveis 1,5 milhão de m² de calçadas em SP

18/05/2019 às 01:00

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Em entrevista exclusiva à Gazeta, Cid Torquato contou também quais ações são feitas em relação a trabalho e transporte público

Em entrevista exclusiva à Gazeta, Cid Torquato contou também quais ações são feitas em relação a trabalho e transporte público | /THIAGO NEME/GAZETA DE S. PAULO

O secretário municipal da Pessoa com Deficiência, o advogado Cid Torquato, tem um desafio inédito até o fim do mandato da atual gestão, em dezembro de 2020: reformar 1,5 milhão de metros quadrados de calçadas para torná-las acessíveis, pelo Programa Municipal de Calçadas. Para isso, afirma que vai investir R$ 400 milhões.

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Além do investimento nos passeios, Cid Torquato, 56 anos, falou nesta entrevista exclusiva à Gazeta sobre outras ações relacionadas a trabalho e renda, acesso da população a cadeiras de rodas e transporte público.

O secretário tornou-se tetraplégico em 2007, após mergulhar e bater a cabeça em um lago na Croácia. A sua nova condição o fez se aproximar de gestões públicas para atuar com o tema. Ele explica de forma pragmática como encarou a própria deficiência: "O que eu tinha que fazer em relação a isso? Eu tinha que continuar".

Gazeta de S. Paulo - Quais são as metas em relação às calçadas?

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Cid Torquato - Vamos investir R$ 400 milhões em calçadas, que serão escolhidas principalmente pelo maior fluxo de pedestres e também por reclamações pelo 156. Esperamos fazer 1,5 milhão de metros quadrados de calçadas. É uma meta ousada, mas factível. Fora isso, o Vale do Anhangabaú vai ser remodelado. Outras partes do centro também sofrerão uma intervenção grande. Parques, praças e clubes serão requalificados. Paralelamente, a prefeitura triplicou os gastos com zeladoria, que também vai englobar rampas e a reforma de calçadas quebradas. O impacto das ações vai ser sentido em todas as subprefeituras. É algo muito importante porque calçada boa garante mobilidade, conforto e segurança.

GSP - Boa parte das calçadas da cidade é de responsabilidade do morador, não?

CT - Oitenta e cinco por cento das calçadas são de responsabilidade privada, mas parece que as pessoas não sabem. Então temos que conscientizá-los sobre os padrões que podem utilizar. Paralelamente, aumentar a fiscalização, seja pelos fiscais da prefeitura ou incentivando o munícipe a usar o 156. O 156 é a principal ferramenta de interlocução entre munícipes e a prefeitura. Aí a pessoa pensa: "Ah, demora". Às vezes demora, mas vai começar a demorar menos com esses investimentos pesados de zeladoria.

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GSP - Quais são as ações da secretaria?

CT - A grande maioria das pautas são em parceria com outras secretarias, em projetos em conjunto. E damos também cursos e workshops sobre vários temas, como libras e acessibilidade arquitetônica. Temos o selo de acessibilidade arquitetônica e digital, que são de excelência. Há um ano todos os sites da prefeitura estão sendo certificados com o selo. Temos também a CIL, Central de Intermediação em Libras, pelo qual o munícipe surdo pode em qualquer serviço público municipal ser atendido em libras, via vídeo chamadas. Da sala de atendimento da SPtrans a ginecologista da AMA há esse serviço.

GSP - Como a secretaria ajuda esse público a entrar no mercado de trabalho?

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CT - Promovemos o evento Contrata SP exclusivamente para pessoas com deficiência. Ano passado foram quatro e neste ano haverá mais quatro. Reunimos mais de 100 empresas que ofertam uma média de 2 mil cargos por edição. Conseguimos atrair em média 1500 pessoas por evento. São contratados em torno de 10% do público por edição. Começou ano passado e há potencial de dobrar esse número de contratações, conforme aprimoramos o evento e a relação com as empresas. E há também programa voltado para o estágio.

GSP - Como funciona?

CT - Nós criamos um programa de estágio na prefeitura que triplicou o número de estagiários com deficiência nos últimos dois anos, e levamos o programa para o mercado. As empresas em geral têm aderido. Nossos parceiros são a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e a Secretaria de Gestão. Esse é um programa vivo. Se não ficarmos em cima é capaz de andar para trás, que as empresas esqueçam de contratar estagiários com deficiência.

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GSP - Quantas pessoas com deficiência trabalham na
secretaria?

Há 12 funcionários e 19 estagiários, ou seja, 31 pessoas.

CT - Os paulistanos com deficiência têm acesso gratuito a itens básicos, como cadeiras de rodas?

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Esses produtos são dispensados pelo SUS. Obviamente que tem a ver com a prefeitura, porque a Secretaria da Saúde é o órgão intermediário, mas o recurso é federal. Estão disponíveis, mas, com sinceridade, está demorando um pouco mais do que a gente gostaria. Nós estamos em articulação com a Secretaria da Saúde para ver como podemos melhorar esse fluxo. O tempo oscila de 10 meses a dois anos para conseguir o equipamento. Teria que ser mais rápido. A gente está estudando para ver como atender melhor esse fluxo.

GSP - Uma reclamação constante das pessoas com deficiência é em relação aos ônibus com piso alto...

CT - Há cerca de 6 mil carros ainda com piso alto em quase 15 mil ônibus. O piso alto é ruim até para o embarque de pessoas sem deficiência. O primeiro degrau é altíssimo, imagine para idosos, anões, crianças. A gente tem que trabalhar para que essa transição seja o mais rápido possível. A mudança tem de ser gradual mas rápida. Mas conseguimos alguns avanços, como colocar quatro lugares para cadeiras de rodas em micro-ônibus que vão para o Centro Paralímpico Brasileiro, na zona sul, e para a Vila Clementino, onde estão instituição como a Apae e a Fundação Doria Nowill.

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GSP - O sr. ficou tetraplégico aos 44 anos. O que diria para pessoas que passam por situações semelhantes?

CT - As deficiências são parte da vida. Tem gente que nasce com, tem gente que adquire quando é criança ou na vida adulta. É meio uma loteria. Então a gente tem que encarar como parte dessa loteria que é viver. E saber que não representa o fim da vida. Não tem muito segredo e nem nada místico, é algo prático e pragmático: é preciso tentar viver da melhor forma possível. Claro que, no meu caso, não é fácil ser tetraplégico, é uma chatice. Pragmaticamente, o que faço no meu dia a dia é tentar administrar isso da melhor forma possível. O que eu tinha que fazer em relação a isso? Eu tinha que continuar.
(Bruno Hoffmann)

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