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Cotidiano

Campanha de Bolsonaro deixa tema da corrupção em 2º plano após escândalo no MEC

A investigação sobre a montagem de um balcão de negócios no MEC se tornou um duro golpe no discurso anticorrupção de bolsonaristas

Maria Eduarda Guimarães

30/06/2022 às 11:34  atualizado em 30/06/2022 às 12:11

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Jair Bolsonaro (PL)

Jair Bolsonaro (PL) | Reprodução/Redes Sociais

Em meio ao escândalo no MEC (Ministério da Educação), que resultou na prisão do ex-ministro Milton Ribeiro por um dia, integrantes da pré-campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) têm defendido que a corrupção seja um tema colocado em segundo plano na discussão eleitoral.

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A estratégia de comunicação foi discutida no próprio dia da prisão de Ribeiro, na semana passada, em reuniões no Planalto das quais participaram os principais aliados. A investigação sobre a montagem de um balcão de negócios no MEC se tornou um duro golpe no discurso anticorrupção de bolsonaristas.

O próprio presidente fez nova mudança de discurso sobre esse tema nesta quarta-feira (29), quando admitiu que pode haver casos de desvio de verba pública no governo federal.

Bolsonaro costumava descartar a possibilidade de existirem episódios de corrupção no governo.

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Agora, complementou sua frase tradicional e disse que podem existir desvios, mas que não há "corrupção endêmica" na sua gestão.

"No governo, não temos nenhuma corrupção endêmica. Tem casos isolados que pipocam e a gente busca solução para isso", afirmou em palestra a empresários em evento da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

De acordo com integrantes da pré-campanha de Bolsonaro, pesquisas internas do PL têm mostrado que a corrupção não é, atualmente, um fator preponderante no debate para os eleitores na hora do voto.

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Eles passaram a defender que a principal preocupação no país é com temas como fome, combustíveis e inflação. Dessa forma, há menos apelo ao fato de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de ex-ministros petistas como José Dirceu terem sido presos na Lava Jato.

Uma ala da campanha tem defendido que Bolsonaro reduza falas sobre esse tema e tente focar na apresentação de uma agenda positiva. A leitura é que dar centralidade ao assunto corrupção não trará votos adicionais e pode desgastar o presidente.

A pauta anticorrupção chegou a ser amplamente debatida nos últimos pleitos, com capacidade grande de influenciar votos e potencial de desgastar o PT, diante de acusações contra governos do partido.

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Após bater nessa tecla por anos, Bolsonaro pode ser alvo agora de uma nova CPI -senadores articulam a instalação de comissão para apurar as suspeitas na pasta da Educação.

Ao longo do mandato, Bolsonaro vinha repetindo que não havia corrupção em seu governo. Ele chegou a enfatizar isso em mensagem de Natal.

Diante de uma série de suspeitas, em maio deste ano Bolsonaro já havia adaptado seu discurso ao falar não haver nenhuma "denúncia consistente" em seu governo. Agora, menciona ausência só de "corrupção endêmica".

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O presidente se beneficiou da pauta anticorrupção em sua eleição em 2018, apesar de terem vindo à tona antes mesmo da campanha episódios como a existência de uma funcionária fantasma por 15 anos em seu gabinete de deputado federal -caso revelado pela Folha de S.Paulo.

Bolsonaro, seus familiares e seu governo acumulam uma série de casos de suspeita de corrupção, além de colecionarem ações no sentido de barrar investigações e esvaziar instituições de fiscalização e controle.

Uma estratégia discutida na campanha é a de, cada vez que surgir uma acusação, Bolsonaro retrucar dizendo que nos governos petistas a corrupção foi maior. Aliados também dizem que Bolsonaro deve argumentar que não interferiu na PF, tanto que Ribeiro foi preso.

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A pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (23) mostra um cenário estável, com Lula 19 pontos à frente de Bolsonaro. O petista marca 47% de intenções de voto, contra 28% do atual mandatário.

Apesar de reconhecerem ser muito ruim a interceptação telefônica que sugere que Ribeiro passou a suspeitar que seria alvo de busca e apreensão após uma conversa com Bolsonaro, aliados do presidente tentaram minimizar esse episódio dizendo que isso ainda não é suficiente para comprometê-lo.

Em conversa em 9 de junho com sua filha, Ribeiro disse que falou com Bolsonaro naquele dia e que o presidente lhe contou estar com "pressentimento" de que iriam atingi-lo por meio da investigação contra o ex-ministro.

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Treze dias depois, Ribeiro se tornou o primeiro ex-ministro de Bolsonaro a ser preso.
Assessores do presidente dizem acreditar que a situação econômica ruim cria um ciclo de rejeição, de forma que qualquer pauta negativa é atribuída ao presidente.

A intenção, então, é montar uma ofensiva chamada por aliados de agenda positiva. A pedido da equipe de reeleição, foi feito um levantamento em todos os ministérios com entregas e programas do governo que podem ser usados na comunicação da campanha.

Como a Folha mostrou, diante da maior preocupação do governo com combustíveis e pobreza, o governo quer ampliar o valor do Auxílio Brasil para R$ 600, além de conceder um vale para caminhoneiros e dobrar o vale-gás.
Exemplo dessa nova estratégia é que o presidente passou a citar mais números em suas entrevistas, como ocorreu em conversa com a rádio Itatiaia nesta semana.

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Um vídeo curto editado das respostas de Bolsonaro, falando de empregos gerados, beneficiários do Auxílio Brasil e Lei da Liberdade Econômica, foi publicado nas redes sociais do mandatário. Isso ocorreu no mesmo dia em que foi divulgada a gravação em que Ribeiro indica interferência de Bolsonaro na PF.

A prisão do ex-ministro da Educação não apenas prejudicou o discurso anticorrupção do governo como deixou o presidente em uma saia justa por ter dito no passado que colocaria a cara no fogo por Ribeiro.

Depois, em sua live semanal, ele disse que exagerou ao usar a expressão, mas que o ex-ministro não deveria ter sido preso -e que colocaria a mão no fogo por ele. A leitura de que a prisão preventiva foi equivocada foi repetida por bolsonaristas e pelo entorno do presidente.

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O advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, foi além: ele afirmou, na sexta-feira (24), que não houve conversa entre o presidente e o ex-ministro; e que caberá a Ribeiro explicar o uso "indevido" do nome do presidente.

"Não existe nada entre o presidente e o ex-ministro. Eles não têm contato, eles não se falam", disse Wassef.

"Se o ex-ministro usou o nome do presidente Bolsonaro, usou sem seu conhecimento, sem sua autorização. Ele que responda. Compete ao ex-ministro explicar por que é que ele usa de maneira indevida o nome do presidente da República."

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