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Cotidiano

Colágeno de luxo já levou ao abate de 1 milhão de jumentos no Brasil

Caso o ritmo atual de abates continue, animais podem desaparecer do território brasileiro antes de 2030

Hebert Dabanovich

26/06/2025 às 12:15

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Entre 1996 e 2025, mais de um milhão de jumentos foram abatidos no País

Entre 1996 e 2025, mais de um milhão de jumentos foram abatidos no País | Wirestock/freepik

A procura por colágeno extraído da pele de jumentos tem provocado uma queda expressiva na população desses animais em vários países, inclusive no Brasil.

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Entre 1996 e 2025, mais de um milhão de jumentos foram abatidos no País, reduzindo o rebanho nacional de 1,37 milhão de animais para cerca de 78 mil.

Os dados são da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, que indica uma redução de 94% nesse período.

Caso o ritmo atual de abate continue, os jumentos podem desaparecer do território brasileiro antes de 2030.

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O alerta é do professor Pierre Barnabé Escodro, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que integra uma rede de pesquisadores dedicada à preservação da espécie.

Pesquisadores e ativistas defendem a aprovação de um projeto de lei apresentado em 2022 que proíbe o abate, atualmente parado no Congresso.

O tema será debatido a partir desta quinta-feira (26/6) em Maceió (AL), na terceira edição do evento “Jumentos do Brasil”. O encontro deve reunir cerca de 150 participantes, entre eles pesquisadores de outros países.

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Segundo Pierre, a situação crítica não é exclusiva do Brasil. Em países como o Egito e em várias regiões da África, a espécie já praticamente desapareceu, o que tem ampliado o debate internacional sobre conservação.

Abates legalizados no Brasil

No Brasil, três frigoríficos com autorização do Serviço de Inspeção Federal (SIF) estão autorizados a fazer o abate, todos localizados na Bahia.

Pesquisadores e ativistas argumentam que o processo é feito sem rastreabilidade, ou seja, sem controle sanitário ou sobre doenças dos animais.

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Eles também afirmam não haver uma cadeia produtiva estruturada, mas, sim, uma prática extrativista, considerada insustentável.

A reprodução dos jumentos não acompanha a velocidade do abate, colocando a espécie em risco de extinção no contexto nacional.

Desde 2019, a Justiça brasileira chegou a suspender a prática em algumas ocasiões, atendendo a ações movidas por entidades de defesa dos animais.

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Em artigo publicado em maio na revista científica Animals, o professor Escodro e outros pesquisadores relataram sinais de inflamação sistêmica em 104 jumentos abandonados e destinados ao abate, indicando possíveis falhas no manejo e bem-estar animal.

Na Assembleia Legislativa da Bahia, um projeto de lei que propunha proibir o abate foi apresentado em 2022, mas o parecer do relator Paulo Câmara (PSDB) foi contrário à proposta.

O deputado alegou que a prática é regulamentada, tem relevância econômica e que seria mais eficaz fortalecer a fiscalização. Ele também afirmou que a população de jumentos estaria “estável e equilibrada”, o que levou grupos de conservação a publicar uma nota de repúdio.

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Procurado, o parlamentar manteve o posicionamento e, em nota enviada ao portal g1, disse que seu parecer foi baseado em critérios técnicos, legais e econômicos.

Mercado bilionário

A valorização da pele dos jumentos está ligada à produção de eijao, substância usada na medicina tradicional chinesa.

O produto é vendido por até US$ 4 mil e é indicado como solução para diferentes problemas de saúde, embora não existam evidências científicas que comprovem sua eficácia.

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Segundo a organização The Donkey Sanctuary, cerca de 5,9 milhões de jumentos são abatidos por ano para atender o mercado de eijao, que movimenta aproximadamente US$ 6,38 bilhões.

No interior de Alagoas, por exemplo, animais que antes eram vendidos por R$ 100 a R$ 150 agora chegam a custar entre R$ 400 e R$ 500 devido à escassez, informou Pierre.

Um estudo da Universidade Maasai Mara, no Quênia, divulgado nesta quarta-feira (25/6), mostrou impactos sociais do abate. As mulheres são as mais afetadas, já que usam os jumentos em atividades do dia a dia, o que também afeta a renda das famílias.

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Iniciativas para preservação

Com a queda no uso dos jumentos na agricultura familiar por causa da mecanização, muitos animais foram abandonados nas estradas do Nordeste.

Agora, pesquisadores buscam formas de reintroduzir os jumentos na sociedade, como em atividades de pastoreio, terapias assistidas e apoio a pequenas propriedades rurais.

O evento em Maceió também deve discutir a criação de santuários em regiões onde esses animais vivem com relativa segurança.

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Em Jericoacoara, no Ceará, há cerca de 700 jumentos em áreas de difícil acesso ao abate. Em Santa Quitéria, no interior do Estado, uma fazenda do Detran abriga entre 1,2 mil e 1,3 mil animais.

Outro foco dos defensores da causa é pressionar pela aprovação do Projeto de Lei 1.973/2022, que propõe a proibição do abate em todo o país. Uma das ações é o site Fim do Abate, lançado para divulgar a campanha.

Em 2023, a União Africana aprovou uma moratória de 15 anos para o abate de jumentos com fins comerciais.

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Extinção

Além do jumento brasileiro estar ameaçado de extinção, diversas outras espécies também correm risco. Recentemente, o Zoológico de São Paulo recebeu uma dupla de mico-leão-dourado fêmea, que também enfrenta ameaça de desaparecimento.

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