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Cotidiano

Eleições estaduais têm Lula 'na retranca' e apelos por desnacionalização

Campanha de Lula adotou uma linha 'paz e amor' que mira eleitores que optam por adversários do PT localmente, mas cogitam votar no petista

Maria Eduarda Guimarães

04/07/2022 às 12:15  atualizado em 04/07/2022 às 12:24

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Lula (PT)

Lula (PT) | Ricardo Stuckert - PT- Reprodução/Facebook

Mirando um eleitorado para além do tradicional da esquerda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou a modular as críticas a adversários nos estados, adotando uma linha "paz e amor" que mira eleitores que optam por adversários do PT localmente, mas cogitam votar no petista.

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Nas últimas semanas, Lula intensificou o ritmo de viagens para tentar manter sua dianteira na briga com o presidente Jair Bolsonaro (PL) e também para turbinar seus aliados estaduais. Mas, de modo geral, o discurso do petista prioriza exaltar os correligionários em vez de fustigar os rivais deles.

A estratégia envolve vários cálculos, que passam pelo esforço de Lula para assegurar votos cruzados e não melindrar siglas que eventualmente estejam com o PT na esfera nacional ou em outros estados.

De forma geral, o ex-presidente tem dado mais atenção à eleição do Congresso do que às disputas pelos governos. Com frequência pede aos eleitores que votem em deputados federais e senadores alinhados com ele para que consiga aprovar projetos com maior facilidade e ter governabilidade.

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Ciente das dificuldades que enfrentará caso vença, Lula também tem acenado com um discurso de pacificação aos governadores que serão eleitos em outubro. Repete que pretende reunir todos eles, independentemente de partido, no início de 2023, para traçar uma agenda comum para o país.

Um exemplo desse comportamento foi a entrevista que Lula deu nesta sexta-feira (1º) à rádio Metrópole, na Bahia. Questionado sobre o pleito local, o ex-presidente disse que o petista Jerônimo Rodrigues é seu candidato ao governo baiano.

Na sequência, contudo, pontuou que terá relação institucional com quem quer que seja eleito, seja "de esquerda, direita ou centro". E citou como exemplo a relação que teve com o ex-governador Paulo Souto, então no PFL, que comandou a Bahia durante o primeiro mandato de Lula, entre 2003 e 2006.

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"Eu vou conversar com as pessoas, discutir com as pessoas. Vou dizer que tenho candidato a governador, mas que eu quero fazer uma campanha civilizada. Não quero agredir ninguém, não quero falar mal de ninguém. Eu quero falar bem das coisas que eu pretendo fazer", afirmou.

No caso baiano, o discurso vai ao encontro da estratégia adotada pelo pré-candidato a governador ACM Neto (União Brasil), que busca desnacionalizar a campanha e também evita críticas ao ex-presidente, que tem alta popularidade no estado.

O tom ameno de Lula contrasta com o de campanhas eleitorais anteriores, nas quais ficava evidente o histórico de conflitos com adversários locais.

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Na eleição de 2006, por exemplo, Lula chegou a chamar ACM Neto de "nanico e baixinho" e o então senador Antônio Carlos Magalhães (1937-2007), avô do hoje pré-candidato a governador, de "hamster do Nordeste". ACM retrucou chamando Lula de "rato gordo e etílico".

O ex-prefeito de Salvador também fez dura oposição aos governos do PT no período em que foi deputado federal e em 2005 chegou a ameaçar "dar uma surra" em Lula. Hoje, minimiza o episódio e diz que lhe faltou maturidade.

Em Minas Gerais, onde o governador Romeu Zema (Novo) lidera com 48% das intenções de voto contra 21% do Alexandre Kalil (PSD), segundo o Datafolha, Lula também tem adotado um tom cauteloso.

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O voto "Lulema" é ventilado no estado. Em um ato em Uberlândia (MG), há duas semanas, o petista evitou mencionar Zema a despeito de o governador ter adotado uma postura hostil ao ex-presidente.

Na ocasião da visita, o mineiro publicou em uma rede social que a cidade que receberia Lula teria "reforço policial para não dar brecha para bandido", incluindo "ladrões dos cofres públicos".

Em seu discurso, o petista não respondeu ao governador. Ao pedir apoio para Kalil, ele disse apenas que "Minas Gerais não pode se render a esse presidente", o que foi entendido como alusão ao atual governador, que se elegeu na onda Bolsonaro em 2018 e tem histórico ambíguo com ele.

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Em São Paulo, Lula tem se dedicado a exaltar o pré-candidato Fernando Haddad (PT), mas sem fustigar os adversários. O governador Rodrigo Garcia (PSDB) vai na mesma linha e, em uma estratégia de sobrevivência, atua para que a briga federal não seja replicada em São Paulo.

Os protagonistas da guerra ao Planalto têm representantes diretos no estado: além de Haddad, o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) disputa o governo com o apoio de Bolsonaro.

O marketing de Garcia explora a mensagem de que ele quer ser "o governador que todo paulista merece ter", seja o cidadão "de direita, de centro ou de esquerda". Outro argumento do tucano é o de que na campanha devem ser discutidas questões do estado, e não do Brasil como um todo.

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No Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro (PL) também tem evitado críticas a Lula, apesar de ser do mesmo partido de Bolsonaro. Ele também liberou ex-secretários a fazerem campanha para o presidenciável que preferirem.

Por outro lado, aliados de Lula no estado, em especial ao presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT), pré-candidato ao Senado, têm relação dúbia com Castro e evitam criticar o governador.

Para o cientista político Humberto Dantas, o PT e a esquerda em geral parecem priorizar neste ano a conquista do poder em nível federal. "Vemos Lula empenhado em não queimar pontes com partidos que eventualmente apoiem outras candidaturas no plano federal ou estejam com ele em outros estados", diz.

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Embora as disputas estaduais ainda não estejam tão presentes no radar do eleitor quanto a nacional, alguns sinais observados por analistas já dão o tom das campanhas nos estados.

Dantas, que é professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, considera que elas tendem a ser marcadas por reeleição ou manutenção de grupos políticos, além de um favoritismo de candidatos com experiência política ou de gestão, rompendo com a onda de outsiders.

"Essas características [de reeleição e experiência] estão aparecendo independentemente de orientação ideológica. Entre os principais candidatos nos estados, não há nenhum com perfil de aventureiro."

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A cientista política Carolina de Paula, ligada à Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), afirma que a tentativa de desnacionalização é arriscada, porque a conexão com o pleito nacional é muitas vezes incontornável, sobretudo com o cenário dicotômico entre Lula e Bolsonaro.

"A não ser que tenha um capital de votos muito grande, um candidato dificilmente escapa de ter que se posicionar. E parte do eleitorado gosta de saber em que lado ele está, acaba criando uma pressão, inclusive nesses momentos em que os presidenciáveis vão fazer campanha nos estados", diz ela.

Carolina avalia que Lula deverá adotar postura mais incisivas em estados onde os rivais do PT forem bolsonaristas mais radicais, como Rondônia, mas ele tenderá a medir bem o risco de afugentar potenciais eleitores. "É uma conta óbvia: para um presidenciável, quanto mais voto, melhor."

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