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Para escritor, o corpo negro 'carrega também a sua história' | Reprodução YouTube | Secult Paraíba
A busca por suas origens levou Ernesto Mané Júnior até o outro lado do Oceano Atlântico. Doutor em física nuclear pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, o escrito e também diplomata na Argentina foi para Guiné-Bissau, em 2010, refazendo o caminho da família paterna. Essa viagem se tornou o livro "Antes do Início".
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Os relatos da viagem, além do livro, lançado em julho, foram tema de debate no 2º Festival Literário Internacional da Paraíba, em João Pessoa, no fim de novembro.
“Considero que o corpo, principalmente o corpo diaspórico negro, o corpo afrodescendente, carrega também a sua história”, afirmou o diplomata, considerado uma das 100 pessoas negras mais influentes do mundo na área de política e governança, pela lista Most Influential People of Africa Descent (Mipad).
O livro ‘Antes do Início’, publicado pela editora Tinta da China, conta a história de Ernesto Mané Júnior em busca da sua ancestralidade.
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“Minha avó não falava português e nem espanhol. Ela entendia, mas só respondia em crioulo. Então tive que aprender um pouco de crioulo para entender a minha avó”, relembra o paraibano.
Ernesto, fez intercâmbio na Inglaterra aos 20 anos. Antes de ir para a Europa, encontrou o seu pai que havia abandonado a família. Júnior queria ouvir a experiência paterna, que havia deixado a Guiné-Bissau para vir estudar no Brasil.
O Ernesto Mané pai chegou na Paraíba em 1978 por conta de uma bolsa do Itamaraty. Se apaixonou e formou família na capital João Pessoa.
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O Programa de Estudantes-Convênio (PEC) propiciava que estudantes estrangeiros — principalmente de nações com língua portuguesa — estudassem nas universidades federais do País. No caso de Ernesto, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Ernesto pai se separou, mas continuou a morar em João Pessoa com sua a nova esposa quando contou ao seu filho sobre toda a família que ainda vivia no país africano. Em 2010, Ernesto Júnior decidiu ir para a Guiné-Bissau conhecer seus antepassados.
“Fiz essa viagem e um registro diário, e o texto ficou guardado durante uma década. Até a pandemia do Covid-19 que se abateu no mundo inteiro. Nessa época lembrei desse diário e decidir fazer dele um livro”, afirmou o doutor em física nuclear pela Universidade de Manchester, Inglaterra.
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O físico defende a importância de contar a história da sua família. Sem essa viagem, as relações entre seus tios e avós (que faleceram) iriam se perder com o tempo. A oralidade é uma das principais formas de tornar viva a memória de outras pessoas. Ernesto acredita que onde quer que esteja, o seu corpo é o seu lar.
“Carrego comigo a Paraíba, é a minha casa e o meu território. Também considero que o corpo, principalmente o corpo diaspórico negro, o corpo afrodescendente, carrega também a sua história”, concluiu.
A busca pela ancestralidade africana ganhou maior força nas últimas décadas. Diferente dos europeus ou asiáticos, existem poucos registros dos antepassados desse grupo. Grande parte da memória dos ancestrais no País foi passada pelo boca a boca.
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No Brasil, à população preta e parda (que pode ter influência tanto indígena quanto africana) representava 112,7 milhões de pessoas, cerca de 55,5% da população brasileira em 2022, segundo dados do Censo.
Mesmo com grande representatividade no País, o ensino obrigatório sobre cultura afro-brasileira só foi inserido em abril de 2003, quase 115 nos depois da legislação do fim da escravatura.
Ernesto contou sobre o seu livro durante a Fliparaíba no Centro de Cultura São Francisco, em João Pessoa. A mesa de discussão tinha como tema as escritas em movimento e como os territórios literários estão em trânsito.
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