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Cotidiano

Nota técnica da Saúde contraria Queiroga e recomenda uso de máscaras

Ministério contrariou o próprio chefe ao afirmar que medidas como uso de máscaras e distanciamento social devem ser encorajados neste momento

Bruno Hoffmann

06/06/2022 às 18:45  atualizado em 06/06/2022 às 18:48

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Marcelo Queiroga é ministro da Saúde

Marcelo Queiroga é ministro da Saúde | Reprodução/Twitter

O Ministério da Saúde contrariou o próprio chefe da pasta, Marcelo Queiroga, ao afirmar em nota técnica que medidas como o uso de máscaras e o distanciamento social devem ser encorajados neste momento diante do aumento de casos de Covid.

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A orientação está no ofício que liberou a vacina contra a Covid-19 para pessoas com 50 anos ou mais, publicado no sábado (4). O documento foi elaborado pela Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19.

"Além disso, medidas não farmacológicas (distanciamento e uso de máscaras) devem ser encorajadas no atual momento epidemiológico", diz o texto. A média móvel de novos casos por dia mais que dobrou na comparação com duas semanas atrás.

No sábado, Queiroga afirmou que não vê motivos para obrigar a população a usar máscara no momento atual.

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"Se você quer usar máscara, você use. As pessoas se sentem confortáveis usando máscara, podem usar. Não tem problema. Agora, nós entendemos que, no momento atual, não há motivo para obrigar o uso de máscaras", disse à TV Record.

Nesta segunda-feira (6), o ministro voltou a minimizar a importância das máscaras e afirmou, incorretamente, que o uso não tem benefícios comprovados.

"O uso obrigatório de máscara não tem benefício comprovado. O que funciona é as pessoas aderirem às políticas e isso é mais efetivo. Se você quer usar máscara, usa", disse em uma unidade básica de saúde de Brasília ao tomar a quarta dose da vacina.

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Na sexta-feira (3), Marcelo Queiroga afirmou que "a obrigatoriedade do uso de máscaras é uma bobagem sem precedentes". Segundo o ministro, "a população é esclarecida e usa as máscaras se se sentir confortável com elas".

Na quinta-feira (2), Queiroga foi na mesma linha ao dizer que usar máscara ou não "é um direito de cada um". Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o ministro afirmou que a máscara, "às vezes, serve até como posicionamento político".

A reportagem perguntou ao Ministério da Saúde qual é a orientação da pasta sobre o uso de máscaras, mas não houve resposta até a publicação desta matéria.

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O presidente do Conselho Nacional de Saúde, Fernando Pigatto, afirma que, para não desagradar ao presidente Jair Bolsonaro (PL), o ministério dá à população orientações ambíguas desde o início da pandemia.

"Ao invés de continuar com campanhas explícitas para incentivar as pessoas a se cuidarem, a se vacinarem e a usarem máscaras, o governo sempre tem uma campanha dúbia, sempre cria dúvidas", afirma.

"Para [o ministério] dizer que fez alguma coisa, faz tardiamente esse tipo de recomendação, mas não divulga muito porque, se divulgar muito, toma represália do presidente da República e tem que voltar atrás, como já fez diversas vezes", complementa.

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O coordenador da Rede Análise (organização que coleta e analisa dados relativos à Covid-19), Isaac Schrarstzhaupt, afirma que o Brasil está enfrentando uma nova onda de coronavírus. Ele diz que os casos voltaram a aumentar em meados de abril –primeiro no Sul, depois no Sudeste e Centro-Oeste e, agora, no Norte e Nordeste.

Schrarstzhaupt avalia que as pessoas devem voltar a usar máscara em locais fechados "com toda certeza".

"Do jeito que está a transmissão, se tiver uma pessoa vulnerável, o vírus vai chegar nela porque ele literalmente está em todos os lugares", afirma.

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Nos últimos dias, o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) pediu ao Ministério da Saúde uma campanha ampla de comunicação para reforçar os riscos de contágio pelo novo coronavírus e melhorar os índices de vacinação, principalmente das doses de reforço.

O presidente do Conass, Nésio Fernandes, afirma que há o receio de que os casos de Covid-19 aumentem ainda mais no segundo semestre em meio às eleições.

"Nós temos a preocupação de que, em pleno período eleitoral, exista uma nova oscilação de casos no Brasil considerando o alto percentual da população suscetível: aqueles que não iniciaram o esquema de vacinação, que estão com o esquema atrasado ou receberam a última dose há mais de seis meses. Esse percentual [de pessoas que receberam a última dose há mais de seis meses] pode ser muito alto no segundo semestre", afirma Fernandes.

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O Conass defende uma campanha 90/90: 90% de todos os públicos vacinados contra a Covid-19 em 90 dias. Segundo o consórcio de veículos de imprensa, apenas 43% da população recebeu a dose de reforço.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Queiroga afirmou que os secretários "só fazem pedir". " O que eles têm que fazer é executar a política pública na ponta. Porque dinheiro na ponta para eles foi em quantidade suficiente, e boa parte deles fizeram mau uso do recurso público."

Para o Cosems-SP (Conselho de Secretários Municipais de Saúde de São Paulo), o uso de máscaras em locais fechados é altamente recomendável neste momento. A avaliação é a mesma do Comitê de Contingência da Covid-19 do governo paulista.

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"Nesta época do ano, é altamente recomendável o uso de máscaras porque os vírus respiratórios estarão circulando de maneira bem mais expressiva", afirma o diretor do Cosems-SP e secretário municipal de saúde de Jundiaí (SP), Tiago Texera.

"A gente não tem dúvidas de que, neste inverno que se avizinha, teremos a circulação de todas as variantes da Influenza [gripe] e da Covid-19. Vamos conviver com essas duas doenças respiratórias. Por isso é tão importante [usar máscara], principalmente nesses meses mais frios do ano", afirma Texera.

Nesta segunda-feira (6), Jundiaí voltou a exigir o uso de máscara em escolas. Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul também fizeram essa recomendação. Uma das preocupações é com o aumento de casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em crianças.

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Para os secretários estaduais de saúde, o momento exige cautela. O Conass afirma que a tendência de crescimento de casos poderá repercutir nas próximas semanas em aumento de internações e óbitos –o que, segundo o conselho, ainda não foi observado. Além disso, a estagnação da vacinação representa um grave risco para o surgimento de novas variantes.

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