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Ingressos para 'BET BALANÇO' custam a partir de R$ 40 | Ronald Cruz/Divulgação
Qual o preço de se manter honesto em uma sociedade que cada vez mais premia os atalhos, os escândalos e os discursos vazios? Essa é a provocação que dá partida ao espetáculo inédito "BET BALANÇO", escrito e dirigido por Giovani Tozi.
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Com estreia marcada para sábado (2/8), no Teatro Itália, localizado no icônico Edifício Itália, no Centro Histórico de São Paulo, a peça fará apresentações sempre aos sábados, às 23h.
Na trama, Érico Brás interpreta Jurandir (mesmo nome do personagem que viveu em "Tapas e Beijos", da TV Globo, ao lado de Fernanda Torres e Andrea Beltrão), um homem íntegro, mas sufocado pelas contradições de um País onde o sucesso parece estar sempre ligado à esperteza, e não ao mérito.
O ponto de partida dramatúrgico é o conto "A Teoria do Medalhão", de Machado de Assis, que Tozi atualiza para o contexto de 2025. "Desde que li esse texto no colégio, fiquei impressionado com o humor do Machado, e aquilo me despertou pra obra dele. Sempre quis levar esse conto ao palco, mas foi só agora, que a vontade encontrou o momento certo", conta Tozi.
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No conto, Machado apresenta a figura do "medalhão", um sujeito que conquista notoriedade sem ter feito nada de relevante. Ele é respeitado, ouvido, homenageado, apenas porque representa uma imagem de virtude.
"Hoje, o medalhão de Machado é o influencer que aparece em campanhas, acumula seguidores e vira referência, muitas vezes sem ter dito absolutamente nada com substância. E é sobre isso que BET BALANÇO fala, fama sem mérito, dinheiro sem trabalho, e um País onde o maior talento parece ser o de parecer importante", explica o dramaturgo.
Reencontro de amigos
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Mais de uma década depois trabalharem juntos no Rio de Janeiro, o reencontro entre Érico Brás e Giovani Tozi marca o nascimento de um espetáculo que une humor ácido, crítica social e música ao vivo.
Durante esse tempo, Tozi chegou a procurar Érico para integrar o elenco de uma comédia americana, projeto que ainda não saiu. Mas foi o convite de Érico, esse ano, que deu origem à parceria atual.
"Fiquei muito feliz com o contato do Érico porque admiro muito a história dele, como ser humano e artista. Pra além de um ator cheio de recursos, é um cara que tem uma energia muito boa, e isso faz toda a diferença num processo criativo, afirma Tozi.
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"Quando ele me procurou pra esse trabalho e me contou sobre os temas que interessavam a ele, eu pedi uma semana e revirei minha 'gaveta das vontades'. São projetos ou fragmentos que ainda quero realizar. E lá estava esse: a atualização do conto Teoria do Medalhão, do Machado de Assis", complementa.
A proposta foi justamente essa: falar sobre o poder do dinheiro, como ele molda comportamentos, impõe silêncios e transforma a ideia de sucesso.
No conto, um pai aconselha o filho a se tornar um medalhão, alguém admirado e respeitável sem precisar se comprometer com ideias próprias. No mundo de hoje, esse medalhão é o influencer. E é nesse salto que o espetáculo mergulha.
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Érico Brás: arte, influência e propósito
Para Érico Brás, a atração pelo texto de Tozi foi imediata, pois ressoa com seu constante questionamento sobre as ascensões e aceites que as pessoas dão na vida, no campo artístico ou no cotidiano.
"Sempre questiono: Por quê? Para que? E em que isso vai dar?", explica o ator, destacando essa busca por significado como um motivo primordial para qualquer projeto que empreenda.
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Ele reconheceu no primeiro esboço de "BET BALANÇO" o caminho para explorar essas indagações. O ator, que também canta na peça, vê a interligação das vertentes artísticas como algo natural.
"Eu gosto sempre de entrelaçar as coisas, as vertentes da arte: cantar, dançar, interpretar, escrever, pintar. Eu acho que são linguagens que dialogam", afirma.
Para ele, a música em cena é fundamental, enraizada em sua própria história e religião: "Eu sou de religião de matriz africana, em que o cantar é algo divino. Eu, por exemplo, não acredito num Deus que não dança. O Deus que eu louvo é o Deus que dança. E a arte pra mim é um Deus, é um Orixá".
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Interpretar clássicos como "O Mundo é um Moinho" ou a própria "Bete Balanço" é, para o ator, uma forma de usar seu corpo para manter a arte viva.
Brás também defende o humor como ferramenta de crítica social. "O humor sempre será eficaz. Não existe um Deus que se disfarça, né?", provocando a reflexão sobre o artista como mensageiro.
Embora trabalhe com humor, Érico pontua que "nem tudo é permitido. As pessoas acham que pode tudo, mas não pode tudo. Se pode tudo, aguente a consequência de tudo também, né? Porque tudo é causa e efeito."
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Ele reforça que a responsabilidade do artista em um País com valores embaralhados é justamente desembaralhar essas cartas.
"A gente precisa provocar, provocar o pensamento crítico, sobretudo o que está acontecendo na sociedade, é uma forma de dar as cartas também, e deixar cada pessoa jogar de acordo a sua decisão. O artista pode, sim, contribuir para esse desembaralhar de valores que estão na sociedade."
Sobre a crescente presença de influenciadores em espaços tradicionalmente ocupados por atores, Brás é categórico:
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"Eu acho absolutamente errado. Você não pega um pedreiro e manda ele fazer uma cirurgia no lugar do médico, não é? Você não manda o padeiro sentar-se na cadeira do juiz lá no Supremo e manda ele julgar um caso? A arte é uma profissão também. Influencer é influencer, ator é ator."
Ele argumenta que a dramaturgia exige requisitos específicos, e banalizar a atuação colocando pessoas sem formação promove uma "desqualificação da arte", resultando em um prejuízo imensurável para a cultura e para os muitos artistas desempregados. O artista refuta também a ideia de se reinventar levianamente:
"A arte é passiva de reinvenção, porque ela é aberta... Mas quando você olha pra cara de um ator, de um cantor... e diz, 'Ah, se reinvente porque os influencers estão aí', você está promovendo a desqualificação da cultura".
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Musical intimista
"BET BALANÇO" traz Érico Brás em um solo tragicômico, musicado, que mistura elementos de stand-up comedy, teatro político e show musical. Em cena, uma banda ao vivo acompanha o ator, que canta clássicos da música brasileira sobre dinheiro, poder e vaidade.
Canções populares de artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ivete Sangalo e Cartola ajudam a costurar as passagens mais intensas do espetáculo.
Além do humor e da música, o texto toca em feridas muito atuais, como o racismo estrutural, especialmente no universo da publicidade, e o escândalo das casas de apostas online, que aliciam artistas e influenciadores para promover um sistema onde, quase sempre, o pobre é quem perde.
"BET BALANÇO" propõe uma reflexão urgente: em um tempo em que a influência vale mais do que o conteúdo, e o sucesso pode ser medido em curtidas, o que ainda tem valor?
Sinopse
Jurandir é um homem comum, íntegro, batalhador, que um dia vê sua vida mudar após recusar, e depois aceitar, uma proposta milionária para divulgar uma casa de apostas online.
A partir dessa escolha, ele mergulha numa espiral de lembranças, dilemas morais e questionamentos sobre sucesso, fama e dinheiro.
Partindo da Teoria do Medalhão, de Machado de Assis, a história atualiza o conto para expor os bastidores de uma sociedade onde parecer vale mais do que ser, e onde a linha ética entre ganância e ambição é cada vez mais turva.
Tudo isso costurado por música ao vivo, bom humor e uma linguagem que mistura stand-up, teatro e crítica social.
"BET BALANÇO" é uma tragicomédia contemporânea sobre o preço das escolhas num mundo que transformou a influência em moeda e a vaidade em virtude.
Para quem gosta de monólogos, não deixe de conferir que Gregório Duvivier lota Theatro Municipal com peça que mistura poesia e humor.
Serviço - 'BET BALANÇO'
Quando? Estreia 2 de agosto de 2025; sessões aos sábados, às 23h
Onde? Teatro Itália - Av. Ipiranga, 344, República, São Paulo - SP
Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia)
Classificação: 12 anos
Duração: 60 minutos
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