Entre em nosso grupo
2
Continua depois da publicidade
Apresentação começa antes da plateia tomar seus lugares | Divulgação/Mariana Maria
Logo após o fim da COP30, realizada em Belém, no Pará, com debates ambientais, uma peça em São Paulo decide mirar justamente o uso político e empresarial da pauta verde.
Continua depois da publicidade
A peça “Cadáver Perfumado”, em cartaz no Teatro Ágora, no Bixiga, região central de São Paulo, nesta quinta (27/11) e sexta-feira (28/11), às 20h, questiona o greenwashing (maquiagem ambiental) por meio de humor ácido e provocações cênicas.
Dirigido pelo grupo de jovens artistas formado por Nicolau da Conceição, Pedro Libâneo e Noel Bielecki, o espetáculo utiliza recursos performáticos e estéticos inspirados na tradição experimental paulistana.
A montagem parte da ideia de que a crise climática, além de ameaçar populações e ecossistemas, virou também produto, slogan e estratégia de vendas.
Continua depois da publicidade
A apresentação começa antes da plateia tomar seus lugares. Um cortejo fúnebre performado no jardim do teatro antecipa o tom da narrativa, que mistura ironia, teatralidade ritualística e uma crítica direta ao modo como discursos ambientais são esvaziados e transformados em ferramenta de autopromoção.
No palco, a história gira em torno de um reino que tenta lidar com um sol cada vez mais hostil enquanto publicitários buscam reinventar a tragédia como oportunidade de negócios.
Entre exageros e situações absurdas, a peça aponta para fenômenos do presente. Um deles: governos que anunciam compromissos ecológicos sem implementação concreta, e empresas que adotam comunicação ‘sustentável’ mais preocupada com a imagem do que com o impacto real.
Continua depois da publicidade
O elenco, que conta com Gabriel Frossard, Gabriela Kometani, Isabella Sabino, Luiz Torres, Kim Cortada, Thalin e Tom Freire, alterna entre comédia escrachada e cenas ritualizadas.
Em uma das sequências mais comentadas, Gabriel Frossard aparece nu para ironizar a transformação do corpo em peça publicitária e, por extensão, a mercantilização da narrativa ambiental. A nudez não é exibicionismo, mas crítica: na cena, um produto fictício promete “resolver” o aquecimento global com um simples protetor solar.
Também chama atenção um monólogo de Isabella Sabino, que explica, com humor, como mecanismos mentais rápidos e pouco precisos ajudam a sociedade a minimizar a gravidade da crise climática.
Continua depois da publicidade
A encenação utiliza ainda música ao vivo, vídeos e iluminação contrastada para compor um ambiente que os criadores descrevem como “carnaval distópico”, ecoando influências do Teatro Oficina e de José Celso Martinez Corrêa, homenageado no trabalho.
Para Nicolau da Conceição, o foco central é a apropriação das lutas ambientais pela lógica mercadológica. “A promessa de mudança virou produto. O capitalismo recicla até a crítica que recebe”, diz.
Em um momento em que o País sedia uma conferência climática de impacto global, “Cadáver Perfumado” aposta no riso desconfortável para lembrar que, apesar de discursos e campanhas, a emergência climática segue em curso.
Continua depois da publicidade
Continua depois da publicidade