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Quarentena fez com que pessoas ficassem mais tempo com os filhos, criassem novos hábitos e fizessem planos para o futuro
24/04/2020 às 01:00 atualizado em 24/04/2020 às 14:08
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A publicitária Cintia decidiu que quer ter mais tempo para ficar com os filhos, Matheus, de 10 anos, e Vinícius, 8 meses | Arquivo Pessoal
No dia 24 de março, o governador João Doria (PSDB) determinou quarentena no estado de São Paulo. A medida visava achatar a curva do novo coronavírus e evitar o colapso do sistema de saúde paulista. Desde então, escolas foram fechadas, o comércio ficou restrito ao funcionamento dos chamados essenciais e a população foi convidada a ficar em casa.
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Um mês depois, muito tem se falado da saúde mental das pessoas, do aumento no número de divórcios e da dificuldade de manter as crianças entretidas dentro de casa. Porém, há quem já consiga enxergar benefícios, para além do combate ao coronavírus, trazidos pela quarentena.
A publicitária Cintia Lino, de 31 anos, moradora de Vargem Grande Paulista, é uma dessas pessoas. Mãe de dois filhos, Matheus, de 10 anos, e Vinícius, de oitos meses, ela conta que só agora percebeu que precisa mudar sua rotina para dedicar mais tempo aos meninos.
"Eu sou publicitária, especialista em marketing digital e e-commerce. Quando meu filho mais velho era menor, além do trabalho de publicitária, eu tinha um comércio e acabou que eu nem vi o meu filho crescer. Com a quarentena, percebi que estava indo pelo mesmo caminho com o mais novo, pois, atualmente, trabalho com campanha política, o que me exige muito. Quando tudo isso começou, em vez de ficar triste, meu filho comemorou: 'Mamãe, que bom, agora você vai poder ficar mais com a gente. ' Confesso que fiquei emocionada e foi aí que percebi que meus filhos também sentiam a minha falta (...). Nestes dias, a minha rotina tem sido bem atribulada, visto que somos apenas nós três, tive que dispensar as minhas duas ajudantes e continuo trabalhando em home office. Porém, eu consigo brincar mais com eles, assistir um pouco de TV, acompanhar o meu mais velho nas atividades escolares. São privilégios, que eu não teria se não fosse essa pausa. Eu sei que vou ter que retomar as minhas atividades, mas a quarentena me possibilitou rever algumas coisas e eu já decidi que quero destinar mais tempo para as crianças. Hoje, eu vejo a diferença que isso faz para mim e para eles."
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Assim como Cintia, o jornalista Rafael Guglielmi Ramos de Oliveira, 30 anos, também já consegue pensar em novos hábitos, adquiridos durante a quarentena, que pretende manter quando a vida voltar à normalidade.
"Eu já tinha tentado parar de fumar antes da chegada do coronavírus, mas foi o isolamento e o fato de ver que os fumantes estão no grupo de risco para o Covid-19, que me fez insistir e conseguir largar o cigarro. Já são três semanas sem fumar! Além disso, eu sempre bebia aos finais de semana. Saía com meus amigos e consumia muita bebida alcoólica. Eu não pretendo parar de beber, mas a quarentena tem me mostrado que eu não preciso dos excessos de antes ( ...). Eu tenho me preocupado bastante com a minha imunidade, o que me levou a cozinhar mais. Moro sozinho e tinha o hábito de comer muito fast food. Agora, tenho procurado receitas na internet e investido em uma alimentação mais saudável (...). Eu pretendo levar essas conquistas para depois desse período, pois acho que vai me ajudar muito no meu dia a dia", diz.
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Plano de vida
Na opinião do psicoterapeuta Carlos Florêncio, autor de "Tudo Certo!", Editora phvida, Cintia e Rafael estão fazendo o que todos deveriam fazer neste período: agregar pontos positivos para um momento, especialmente, difícil.
"Este é o momento de fazer o seu plano de vida. Observar as coisas que afetam o equilíbrio (pessoas, situações), observar os pensamentos, emoções, pensar sobre o que é importante na vida e o que queremos jogar fora", diz.
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Florêncio observa ainda que a quarentena pode ser uma ótima oportunidade para colocar em ordem a casa e os sentimentos, visto que, agora, a maior parte das pessoas tem ao menos o tempo que dedicava para se deslocar até o trabalho para novos afazeres.
"Agora, é o momento de fazer o que não depende de ninguém, pois há mais condições de se administrar o tempo. Organizar tudo aquilo que você não tinha tempo de organizar: bagunças internas e externas."
Medicina e Sociedade
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Para além dos benefícios individuais, a quarentena também pode deixar um legado positivo para a sociedade. Ao menos, é o que acredita o sociólogo Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
"Imediatamente, vamos refletir se o padrão de vida que temos é sustentável. Em termos econômicos, sociais, ambiental, nosso padrão de vida não é sustentável. Vamos ter também que reposicionar as profissões. Muitas categorias, que não cabem o home office e até eram invisíveis, podem ser mais valorizadas (...). Também acredito na valorização da ciência, da imprensa e dos professores e de um aumento na solidariedade", avalia Prando.
Já o infectologista João Prats, da Beneficência Portuguesa, não tem certeza se os hábitos irão perdurar, mas já enxerga como positivo a maior preocupação com as medidas de segurança e higiene. "Talvez, a preocupação maior com o risco de uma nova epidemia, nos faça, nos preparar melhor, especialmente nos serviços de saúde. Acredito também que muitas pessoas devem manter os hábitos de higiene e de limpeza das compras. Já, no que diz respeito ao enfraquecimento do movimento anti-vacina, pode ocorrer em um primeiro momento, mas esses movimentos vão e voltam, então, podem ressurgir mais para frente."
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