Ronda: Paulo Vanzolini não gostava de seu maior sucesso

O cientista e compositor nas horas vagas Paulo Vanzolini criou cerca de 60 canções na vida, e uma especial se tornou um sucesso estrondoso: Ronda, que a partir de 1953 entrou em repertórios boêmios Brasil afora após a gravação de Inezita Barroso: “De noite eu rondo a cidade / A te procurar sem encontrar...”

O samba-canção havia sido composto anos antes, em 1945, quando Vanzolini servia o Exército e tinha que dar patrulha em regiões de prostituição no centro de São Paulo. O mote surgiu ao observar as mulheres indo de bar em bar, conforme revelou para este repórter em 2008, em uma entrevista para a revista “Almanaque Brasil”.

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“Às vezes, dava patrulha no meretrício e, sabe como é, sambista está sempre atrás de temas. Eu via aquelas mulheres indo de bar em bar, como quem procurasse algo. A música é uma piada, uma brincadeira. Vou iludindo o ouvinte, que pensa que é uma música romântica, de uma mulher que pretende encontrar o amado. Aí, no fim, o que ela quer mesmo é descarregar o pente no pilantra”, contou, entre risos.

Na sequência, porém, confessou que não tinha um apreço especial pela canção, apesar de ter sido o maior sucesso da sua carreira artística: “Na verdade, não acho essa canção grande coisa. É meio piegas”.

Segundo ele, a música só chegou a ser gravada porque Inezita, numa gravação no Rio, percebeu que não tinha uma canção para o lado B. O compositor havia acompanhado Inezita na viagem, ao lado de sua primeira mulher.

"Era um sábado de manhã e não dava tempo para pedir autorização a outro compositor, só a mim. Ela gravou muito bem. A Inezita é uma das maiores cantoras de samba de todos os tempos. Já vi o morro do Salgueiro chorar ao ouvir ela cantar músicas de Noel Rosa”, revelou.

Detalhe: o lado A desse compacto foi Marvada Pinga (de Ochelsis Laureano), o maior sucesso da carreira de Inezita.

Vanzolini ainda criaria uma série de outros sambas que se tornariam, de alguma forma, símbolo de São Paulo, como Praça Clóvis, Na Boca da Noite, Bandeira de Guerra e a obra prima Volta Por Cima (“Reconhece a queda, e não desanima /Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima”).

Para seu desgosto, porém, ficou marcado para o grande público por Ronda mesmo. Pelo menos foi a música que mais lhe rendeu dinheiro, "graças aos japoneses com dor-de-corno que a cantam em karaokês”.