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Entre fé, trabalho e afeto, a mandicueira mantém viva a cultura de Araí | Reprodução/Youtube
Na comunidade rural de Araí, em Augusto Corrêa, no Pará, a mandioca e seus derivados exercem um papel central nas práticas alimentares, religiosas e econômicas locais.
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Sua presença notável na formação cultural brasileira já foi destacada em obras como ‘CasaGrande & Senzala’ (Freyre) e ‘História da Alimentação no Brasil’ (Cascudo).
No Pará, especialmente ao redor de Araí e da zona nordeste do estado, ela reina absoluta, dando suporte a práticas e experiências que têm valor identitário.
Entre os tipos de mandioca, destaca-se a chamada mandiocaba, de coloração avermelhada, plantada há cerca de um ano até estar pronta para virar a base de um mingau ritual: a mandicueira.
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Diferente de outras variedades cultivadas em maior escala para farinha, a mandiocaba é produzida especificamente para este fim ritualístico, o que a torna singular em Araí.
O preparo exige paciência e ritual: primeiro, a mandiocaba é ralada e dela se extrai a “calda”, uma água doce e abundante que vai para uma panela grande (aproximadamente 70 litros) no fogo de lenha desde manhã.
Depois, faz-se a “renova”: uma parte da calda não totalmente cozida é adicionada à panela principal para intensificar cor e sabor. Quanto mais renova, mais saborosa e avermelhada fica a mandicueira.
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Ainda, o momento de “dar o ponto” exige silêncio absoluto e que ninguém de fora olhe para a panela; é o momento mais delicado.
Para dar o ponto, adicionam-se cerca de 3 kg de arroz e 2 kg de goma de tapioca e, após cerca de 30 min, o mingau está pronto.
É servido quente ou frio, sendo mais doce quando frio, e o processo todo ocupa um dia inteiro de trabalho.
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A mandicueira também carrega ligações simbólicas com os rituais fúnebres: em Araí, quando alguém morria, era costume rezar por nove dias e, no nono dia, “obrigatoriamente” se servia o mingau.
Hoje, embora a reza persista, o costume de servir a mandicueira nesses rituais está desaparecendo e o mingau, na comunidade, está em risco de desaparecer por conta de menor cultivo da mandiocaba e da falta de interesse dos mais jovens em dedicar um dia inteiro à produção.
Mais do que sabor ou alimento, a cozinha amazônica funciona como espaço de identidade, de memória, de saberes e de práticas coletivas que articulam paisagens, crenças e modos de vida.
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Entender esse mingau é também entender a conexão entre plantar, colher, fazer, compartilhar e viver naquele território. O Brasil é repleto de prato típicos que carregam sua cultura.
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