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A espuma tóxica impede a entrada de luz no rio, interrompe a fotossíntese de algas e plantas aquáticas e reduz drasticamente o oxigênio dissolvido na água. | Divulgação/Prefeitura de Pirapora
Um dos rios mais famosos de São Paulo também é um dos mais poluídos do mundo. O Rio Tietê, recentemente, registrou um excesso de espuma tóxica na região de Salto.
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Isso ocorre em toda época de inverno, em que o rio é tomado por uma espessa espuma branca, que o recobre como se fosse neve — mas carrega, na verdade, uma mistura tóxica de poluentes e falhas históricas na gestão hídrica do estado.
O fenômeno, embora recorrente, não é natural. Ele é resultado direto da combinação de esgoto doméstico não tratado, detergentes, resíduos urbanos e uma série de fatores físicos, como estiagens prolongadas e corredeiras que “batem” a água poluída, gerando a espuma.
A espuma do Tietê é formada por compostos como fosfatos e surfactantes, substâncias presentes em produtos de limpeza.
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Quando lançados no rio sem tratamento, esses elementos reduzem a tensão superficial da água, facilitando a formação de bolhas resistentes.
Em trechos com corredeiras, que estão localizados na região de Salto, o movimento da água funciona como uma máquina de lavar gigante, transformando poluição invisível em um espetáculo alarmante.
No inverno, com a vazão do rio reduzida pela seca, a concentração de poluentes aumenta, potencializando a formação da espuma.
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O resultado é um alerta visual que escancara problemas crônicos do saneamento básico — e que afeta não só o meio ambiente, mas também a saúde da população e a economia de cidades impactadas.
A espuma tóxica impede a entrada de luz no rio, interrompe a fotossíntese de algas e plantas aquáticas e reduz drasticamente o oxigênio dissolvido na água.
O resultado são trechos com ausência total de vida — as chamadas "zonas mortas", onde não se encontram sequer peixes, aves ou moluscos.
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Além disso, o mau cheiro e os compostos voláteis liberados pela espuma podem causar irritações nas vias respiratórias e problemas de pele.
Do ponto de vista social e econômico, cidades como Salto e Itu veem seu potencial turístico reduzido. Cachoeiras e parques às margens do rio tornam-se impossíveis de se visitar, e moradores convivem com o estigma de viver à beira de um rio "doente".
Desde 1995, a Sabesp conduz o Programa de Despoluição do Rio Tietê. Houve avanços relatados pela própria empresa:
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A extensão da “mancha de poluição” chegou a cair de 530 km para 85 km, segundo a companhia.
No entanto, dados da Fundação SOS Mata Atlântica revelam um cenário mais preocupante: em 2024, a mancha voltou a crescer, atingindo 207 km dos 576 km monitorados — o quarto aumento consecutivo.
Essa divergência escancara o abismo entre a infraestrutura implementada e os resultados ambientais reais.
As causas vão além do que se pode captar por canos e estações de tratamento. A crise climática, com estiagens mais severas, o desmatamento da Mata Atlântica, o assoreamento de rios e a existência de ligações clandestinas de esgoto são fatores que seguem minando os esforços de recuperação.
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O governo estadual aposta em dois programas para virar esse jogo:
Além disso, a CETESB intensificou as fiscalizações, aplicou R$ 3,8 milhões em multas e criou, junto a outros órgãos, o Grupo de Fiscalização Integrada das Águas do Tietê (GFI-Tietê). Mas os resultados continuam longe do necessário.
A própria lógica que rege parte da legislação ambiental ainda é permissiva: muitos rios do Alto Tietê são classificados como "Classe 4", o que, na prática, permite que funcionem como canais de diluição de esgoto.
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A recuperação do Tietê exige uma abordagem radicalmente integrada. Não basta ampliar estações de esgoto; é preciso enfrentar o desmatamento, mudar a gestão de reservatórios, modernizar o uso do solo e incorporar soluções descentralizadas, como jardins filtrantes e tecnologias de oxigenação da água.
Também é fundamental engajar a sociedade. Projetos como o “Observando os Rios”, da SOS Mata Atlântica, mobilizam voluntários para monitorar a qualidade da água em diversas regiões do estado, reforçando o papel da ciência cidadã na construção de um futuro mais sustentável.
E para fechar esta matéria, podemos tratar o Rio Tietê como um termômetro. Dependendo da forma de como tratamos ele, podemos mudar totalmente o destino das nossas cidades, nossa natureza e nosso próprio futuro.
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Enquanto a espuma branca continuar a cobrir suas águas, será impossível fingir que a sujeira já ficou para trás.
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