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A maioria dos sistemas domésticos de esgoto no Brasil foi dimensionada considerando o fluxo de dejetos líquidos e sólidos orgânicos. | Reprodução IA
No Brasil, é comum encontrar banheiros com aviso ao lado do vaso pedindo para não jogar papel higiênico no sanitário. Para quem já viajou para fora do País, onde o descarte direto é rotina, essa orientação pode soar exagerada.
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Aqui, porém, esse hábito pode significar canos entupidos, fossas sobrecarregadas e gastos altos com manutenção.
Isso porque grande parte da infraestrutura de saneamento foi projetada apenas para receber dejetos humanos. Entender essas limitações ajuda a evitar problemas em casa e a reduzir impactos no meio ambiente.
A maioria dos sistemas domésticos de esgoto no Brasil foi dimensionada considerando o fluxo de dejetos líquidos e sólidos orgânicos.
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Em residências mais antigas, o cenário é ainda mais delicado: tubulações estreitas, muitas curvas e baixa pressão de água nas descargas criam o ambiente perfeito para o acúmulo de papel.
Em vez de seguir em frente com facilidade, o material fibroso se prende nas paredes internas, especialmente nas curvas do encanamento.
A cada descarga, novos pedaços se somam aos antigos, formando uma espécie de barreira que, com o tempo, bloqueia a passagem. O resultado todo mundo conhece: retorno de água pelo vaso, mau cheiro e necessidade de intervenção técnica.
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Outro ponto importante é a pressão da água. Em muitos imóveis, principalmente casas antigas e prédios mais baixos, a descarga não tem força suficiente para empurrar o papel por todo o trajeto até a rede externa ou até a fossa. O que fica pelo caminho vira entupimento em potencial.
Boa parte da população brasileira nem sequer está ligada a uma rede de esgoto adequada. Nessas situações, é comum o uso de fossas sépticas, estruturas enterradas que recebem o esgoto e contam com a ação de micro-organismos e substâncias específicas para digerir o material orgânico.
Quando o papel higiênico é descartado diretamente no vaso, ele também segue para essas fossas. O problema é que suas fibras de celulose não são processadas com a mesma eficiência que os dejetos humanos. O excesso de papel:
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Em áreas sem qualquer tipo de tratamento posterior, parte desse material acaba infiltrando no solo ou alcançando cursos d’água, agravando problemas ambientais que já são conhecidos em regiões com saneamento precário.
A escolha do tipo de papel também interfere diretamente na chance de entupimento. Versões mais espessas e resistentes, como as de folha dupla ou tripla, demoram mais tempo para se desmanchar em contato com a água. Em encanamentos antigos ou com pouca pressão, essa resistência pode ser um problema.
É importante lembrar que o papel higiênico tradicional foi desenvolvido para se desintegrar com relativa facilidade. Ainda assim, isso não significa que seja “inofensivo” em qualquer condição de esgoto. Em sistemas frágeis, até mesmo o papel comum pode acumular e causar bloqueios.
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Situação bem diferente é a do papel toalha. Suas fibras são mais longas, entrelaçadas e tratadas com aditivos para resistir à umidade. Em outras palavras: ele foi feito justamente para não se desfazer com facilidade. Por isso, não deveria ser descartado no vaso em nenhuma circunstância.
Os problemas causados pelo descarte incorreto de papel não ficam restritos ao encanamento do banheiro. Em cidades onde o tratamento de esgoto é insuficiente ou inexistente, o material que não se dissolve totalmente segue pelo sistema e termina em rios, córregos e até no mar.
Além de interferir na vazão das tubulações e estações de tratamento, o papel que chega a esses ambientes leva junto as impurezas presentes no esgoto, prejudicando a qualidade da água e a vida aquática. Em regiões onde o esgoto é lançado diretamente em cursos d’água, o impacto é ainda mais visível.
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Há também a questão da produção desse material. Estimativas indicam que o setor de papel consome, todos os anos, um volume equivalente a 270 mil árvores, uma parcela significativa destinada à fabricação de papel higiênico.
Quando esse resíduo vai parar em aterros sanitários dentro de sacos de lixo, ele se decompõe ao longo do tempo, liberando gases como o metano, associado ao aquecimento global.
Ou seja, quanto mais consciente for o consumo e o descarte, menor a pressão sobre florestas, cursos d’água, solo e atmosfera.
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Diante desse cenário, a solução mais segura para a realidade da maioria das casas brasileiras continua sendo a velha lixeira com tampa ao lado do vaso sanitário.
Pode não ser o modelo preferido de quem se acostumou a jogar o papel direto na água, mas é a opção mais alinhada às limitações do encanamento e das fossas sépticas, além de reduzir a necessidade de desentupimentos emergenciais.
Usar lixeira também evita o desperdício de água. Quem tenta “forçar” a descida do papel costuma dar várias descargas seguidas, aumentando o consumo de um recurso que já é valioso, especialmente em períodos de estiagem.
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Em prédios mais novos, com tubulações modernas e boa pressão de água, o descarte no vaso pode funcionar melhor, desde que o uso seja moderado e o papel, seja adequado.
Ainda assim, especialistas costumam recomendar cautela: em banheiros desconhecidos, imóveis alugados ou regiões com saneamento precário, a opção pela lixeira continua sendo a mais prudente.
No fim, a decisão passa por um equilíbrio entre conforto, custo e responsabilidade. Adaptar o hábito às condições reais do encanamento e do bairro onde se vive é uma forma simples de evitar transtornos, proteger o bolso e reduzir os impactos de uma rotina que, embora pareça banal, começa dentro do banheiro e termina bem além da porta de casa.
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