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O que acontece com o seu coração se você corre 366 dias consecutivos | Pexels
Imagine uma pessoa correr o equivalente a uma maratona por um ano inteiro, sem um dia de descanso — mais de 15 mil quilômetros percorridos. Só de pensar, já parece um desafio exaustivo, praticamente impossível. Mas não para o brasileiro Hugo Farias, de 45 anos.
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O atleta concluiu essa façanha inédita, entrou para o Guinness World Records e, além disso, ajudou a produzir um estudo científico sobre os limites do coração humano diante de um esforço extremo e prolongado.
Monitorado de perto pelo Instituto do Coração (InCor), Hugo teve seu corpo analisado durante todo o processo. O acompanhamento revelou que, apesar do altíssimo volume de exercício, seu sistema cardiovascular passou por adaptações fisiológicas sem apresentar danos significativos.
A jornada foi cuidadosamente planejada, com apoio da família, de profissionais de saúde e do esporte, e tinha um propósito claro: contribuir com a ciência e inspirar outras pessoas.
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Hugo Farias deixou uma carreira de 22 anos como gestor executivo para buscar um propósito maior, inspirado pelo navegador Amir Klink. Ele queria "inspirar pessoas de uma forma diferente" e deixar uma marca única no mundo.
A meta era ousada: superar o recorde de 365 maratonas de Stephen Engels, um atleta belga, correndo 42,195 quilômetros diariamente por 366 dias. Para Hugo, que só havia corrido uma maratona antes de 2019, era uma prova de sua "vontade de escrever uma nova história".
Hugo sabia que não conseguiria sozinho. Ele montou uma equipe multidisciplinar, incluindo médicos, treinador, fisioterapeuta e psicóloga. O Instituto do Coração (InCor) aceitou o desafio de acompanhar seu coração, para observar adaptações, possíveis arritmias ou desarranjo.
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O estudo, aprovado por um comitê de ética, monitorou Hugo com avaliações mensais de ergoespirometria e ecocardiogramas a cada três meses. O objetivo era acompanhar a saúde do coração em grande e microscópica escala, buscando sinais de adaptação ao treinamento.
A pesquisa, publicada na revista científica Arquivos Brasileiros de Cardiologia, mostrou uma descoberta fundamental: não houve alteração nos marcadores de troponina, que indicam dano miocárdico.
Isso sugere que o coração se adapta a grandes volumes de carga atlética se a intensidade for moderada.
O cardiologista esportivo Filippo Savioli, que não participou do estudo, destacou a ausência de remodelamento cardíaco patológico, mesmo após uma carga de volume sem precedentes.
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"Isso reforça a ideia de que o coração do atleta treinado pode tolerar estresses extremos", explicou Savioli.
Hugo manteve uma intensidade moderada, com frequência cardíaca média de 140 bpm, cerca de 70 a 80% de sua frequência máxima estimada. Correr nessa faixa reduz o risco de danos ao coração, como inflamações ou arritmias, mesmo com tanto volume de exercício.
O presidente do InCor, Roberto Kalil Filho, enfatizou que o acompanhamento do ultramaratonista reforça a segurança e os benefícios da atividade física regular e acompanhada. É uma "aliada poderosa na prevenção de doenças".
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Hugo expressou surpresa com a capacidade de adaptação de seu corpo, afirmando que adquiriu um condicionamento que nunca imaginou ter. Ele considerou importantíssimo ver que "não teve nenhuma sequela" em seu coração.
No entanto, o cardiologista Filippo Savioli alertou para os perigos de tentar algo similar sem preparo e supervisão médica. O risco é considerável, com chances de "lesões graves, como arritmias, inflamações ou até morte súbita".
Hugo escolheu iniciar as maratonas pela manhã para ter tempo de qualidade com sua família e realizar os cuidados de recuperação muscular. A maioria das corridas foi feita na mesma rota em Americana, interior de São Paulo, por razões logísticas e para inspirar pessoas.
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Ele enfrentou diversos obstáculos, como frio, calor, chuva, trânsito e problemas de saúde, incluindo diarreia e a perda de 4kg. Hugo também lidou com lesões, como fasceíte plantar (inflamação no pé) e pubalgia (lesão na virilha), por volta das maratonas de número 120 e 140, respectivamente.
Para superar a pubalgia, uma "lesão muito dolorosa", Hugo fez recuperação ativa, caminhando 10 horas por dia com gelo na virilha antes de retomar a corrida. O acompanhamento psicológico foi essencial para aliviar a ansiedade e manter o foco em uma jornada incerta.
Dois anos após concluir o projeto, Hugo Farias lançou um livro, "Nunca é Tarde Para Escrever Uma Nova História", e continua correndo. Ele agora planeja seu próximo desafio: ser o primeiro a correr toda a extensão das Américas, do Alasca à Terra do Fogo, em cerca de dez meses.
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A ideia é correr uma média de 85 quilômetros por dia e transformar essa jornada em um documentário para inspirar futuras gerações. O objetivo de Hugo é "gerar uma grande conscientização global sobre os benefícios da atividade física e de que o ser humano é capaz de coisas incríveis".
Ele ressalta que "ninguém precisa correr uma maratona por dia, mas cada um precisa acreditar de verdade em seu potencial".
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