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4 efeitos do racismo no cérebro e no corpo de crianças, segundo Harvard

Centro de Harvard aponta efeitos profundos e duradouros da discriminação no desenvolvimento infantil

Julia Teixeira

05/08/2025 às 08:14

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Estresse tóxico provocado pelo racismo impacta o cérebro, a saúde e o comportamento infantil

Estresse tóxico provocado pelo racismo impacta o cérebro, a saúde e o comportamento infantil | Foto: Reprodução/Freepik

O racismo diário — seja sofrido diretamente ou testemunhado por crianças negras — pode gerar impactos profundos, duradouros e até invisíveis no corpo, no cérebro e na saúde mental desde a primeira infância.

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Pesquisas do Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard mostram que o estresse tóxico causado por experiências racistas compromete o aprendizado, o comportamento e a qualidade de vida a longo prazo.

Esses danos, ainda que muitas vezes silenciosos, colocam crianças negras em desvantagem desde os primeiros anos de vida. No Brasil, com mais da metade da população se identificando como preta ou parda, os efeitos descritos por Harvard ganham relevância ainda maior.

Corpo em alerta constante

Segundo Harvard, o racismo vivido diariamente é uma "experiência adversa na infância", capaz de manter o cérebro infantil em estado de alerta contínuo. Essa exposição repetida ativa o chamado estresse tóxico, que pode comprometer o desenvolvimento cerebral de forma significativa.

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“Anos de estudos científicos mostram que, quando os sistemas de estresse das crianças ficam ativados em alto nível por longo período de tempo, há um desgaste significativo nos seus cérebros em desenvolvimento e outros sistemas biológicos”, aponta o centro.

Essa ativação exagerada gera excesso de conexões neurais em áreas ligadas ao medo e à impulsividade, ao mesmo tempo em que reduz a atividade em áreas responsáveis por planejamento e autocontrole. O resultado aparece no desempenho escolar, na saúde mental e até no comportamento social.

Doenças físicas e emocionais ao longo da vida

Com o passar do tempo, o estresse contínuo se traduz em maior risco de doenças crônicas. Nos EUA, pessoas negras têm mais problemas de saúde e menor expectativa de vida — realidade que se repete no Brasil.

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Homens e mulheres negros apresentam taxas mais altas de diabetes, hipertensão e depressão. A violência armada também afeta de forma desproporcional essa população: negros representaram 75,7% das vítimas de homicídio em 2018, segundo o Atlas da Violência.

“A gente vê nos dados escancarados, como os da violência, mas também no adoecimento psíquico e nos altos números de suicídio”, alerta a psicóloga Cristiane Ribeiro, que pesquisa os impactos do racismo na saúde mental da população negra.

Acesso desigual à saúde e à educação

As dificuldades enfrentadas por crianças negras se agravam com o menor acesso a serviços públicos de qualidade. No Brasil, 67% dos usuários do SUS são negros, mas essa população realiza proporcionalmente menos consultas médicas e atendimentos de pré-natal.

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A desigualdade também se reflete na educação. Crianças negras têm menos acesso a creches e, entre os adolescentes, a taxa de conclusão do ensino médio é 20 pontos percentuais menor do que a de jovens brancos.

Segundo Harvard, esses fatores são resultado do racismo estrutural, que restringe o acesso a oportunidades econômicas, educação de qualidade e cuidado de saúde adequado.

O impacto do racismo indireto

Mesmo quando não são vítimas diretas, crianças negras sofrem com o que especialistas chamam de “racismo indireto”. Ver familiares sendo discriminados ou ouvir relatos de violência racial gera estresse e ansiedade desde cedo.

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“Múltiplos estudos documentaram como os estresses da discriminação no dia a dia em pais e outros cuidadores têm efeitos nocivos no comportamento desses adultos e em sua saúde mental”, destaca o relatório de Harvard.

Esses efeitos se estendem à criança, afetando o desenvolvimento emocional e físico. Partos prematuros, menor peso ao nascer e maior risco de depressão na adolescência são alguns dos impactos registrados.

Como romper o ciclo do racismo

Apesar dos desafios, especialistas destacam que é possível interromper esse ciclo. A ciência aponta caminhos por meio de políticas públicas, representatividade e redes de apoio que fortaleçam o afeto e a autoestima de crianças negras.

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“Precisamos extinguir a ideia do ‘lápis cor de pele’”, diz Cristiane Ribeiro à BBC. “Se a professora trata com afeto o cabelo crespo de uma criança, como trata o cabelo liso, ela muda o mundo daquela criança. Isso quebra o ciclo.”

Harvard reforça que a ciência sozinha não basta. A combinação entre conhecimento técnico, escuta ativa e mudança nas estruturas sociais é fundamental para garantir que todas as crianças possam alcançar seu potencial pleno — sem o peso do preconceito.

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