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Durante a adolescência, a liberação de melatonina acontece mais tarde. | Freepik
A ideia de que adolescentes são rebeldes, imprudentes e preguiçosos atravessa séculos. Filósofos antigos já os descreviam como impulsivos e irascíveis. Hoje, a ciência avança ao mostrar que boa parte desse comportamento tem base biológica e função no amadurecimento.
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Essa fase do desenvolvimento, com explosões emocionais e desobediências pontuais, favorece a exploração, a autonomia e a construção da identidade. Em vez de patologizar tudo, é preciso contexto: mudar, testar limites e errar fazem parte de crescer.
A adolescência contemporânea, porém, acontece sob novas pressões. Smartphones e redes sociais amplificam comparações, expõem a padrões estéticos irreais e abrem janelas para discursos extremistas. Sem mediação, isso cobra um preço da saúde mental.
Por muito tempo, jovens foram tratados como adultos em miniatura: trabalhavam cedo e casavam cedo.
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A noção de adolescência como etapa distinta ganhou força nos séculos 19 e 20, com o fim do trabalho infantil e a expansão escolar. Após a Segunda Guerra, cresceu a percepção de que essa faixa etária exige proteção específica.
O psicólogo Stanley Hall marcou o debate ao definir a adolescência como turbulenta, visão que dominou por décadas.
Hoje, entende-se que variações emocionais são típicas do período. A chave é diferenciar sinais normativos de alerta legítimo. Instabilidade não é sinônimo de transtorno; requer rede de apoio, rotina e escuta qualificada quando necessário.
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A OMS define adolescência dos 10 aos 19 anos; o ECA, dos 12 aos 18. O início se liga à puberdade, com marcos como menstruação e ejaculação, que vêm ocorrendo mais cedo. Já a maturidade social e psicológica avança em outro ritmo.
Por isso, especialistas sugerem olhar para trajetórias, não só para idades. Muitos adiam saída de casa, casamento e entrada estável no mercado. Do ponto de vista neurológico, há quem proponha estender o recorte até os 25 anos.
O recado editorial é simples: políticas públicas, escola e família devem considerar essa transição prolongada. Pressa em “adultizar” pode gerar frustração; excesso de tutela, por sua vez, sufoca a autonomia.
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Humanos nascem imaturos e levam anos moldando conexões neurais. Na puberdade, ocorre uma “poda” de sinapses e o avanço da mielinização, que melhora a eficiência do cérebro ao longo da juventude.
O sistema límbico, ligado a emoção e recompensa, amadurece antes do córtex pré-frontal, responsável por planejamento e controle inibitório.
Esse descompasso ajuda a explicar a impulsividade e a busca por novidade típicas da adolescência. Em outras palavras, sentir vem na frente de frear.
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O papel do adulto é oferecer limites claros, sem humilhação, e oportunidades seguras de experimentar — do esporte à arte, passando por projetos e participação social.
Durante a adolescência, a liberação de melatonina acontece mais tarde. O corpo pede para dormir e acordar depois, ao mesmo tempo, em que a necessidade total de sono aumenta. Acordar cedo para a escola contraria esse ritmo e derruba atenção e memória.
Chamar de “preguiça” costuma piorar. Ajustes simples ajudam: rotina regular, luz natural pela manhã, telas fora do quarto à noite e, quando possível, horários escolares que respeitem o cronotipo juvenil.
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Dormir melhor reduz conflitos, melhora o humor e protege o aprendizado. Sono não é luxo; é infraestrutura básica para o cérebro em desenvolvimento.
Cérebro em formação, privação de sono e apetite por novidade aumentam a vulnerabilidade no ambiente online. Feeds infinitos e notificações funcionam como máquinas de recompensas variáveis, disputando foco e afetando autoestima.
Isso não transforma redes em vilãs por definição, mas exige educação digital. Sem orientação, o jovem fica mais exposto a comparações tóxicas, desinformação e radicalização.
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Com mediação, pode aprender, criar e se conectar de forma saudável. Famílias que combinam monitoramento proporcional com diálogo aberto tendem a ter melhores resultados. Curiosidade e escuta ativa funcionam melhor do que sermões ou vigilância secreta.
A adolescência é um projeto coletivo. Quando sociedade, escola e família reconhecem a base biológica do comportamento juvenil e os desafios do mundo conectado, abrem espaço para autonomia com segurança.
O objetivo não é “domar” adolescentes, e sim oferecer condições para tomarem boas decisões. Com ciência, limites e afeto, a rebeldia deixa de ser rótulo e vira energia para aprender, criar e transformar.
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