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Por que os jovens são rebeldes, segundo a ciência

Cérebro em desenvolvimento e redes sociais explicam fase conturbada da vida

Raphael Miras

10/11/2025 às 18:15

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Durante a adolescência, a liberação de melatonina acontece mais tarde.

Durante a adolescência, a liberação de melatonina acontece mais tarde. | Freepik

A ideia de que adolescentes são rebeldes, imprudentes e preguiçosos atravessa séculos. Filósofos antigos já os descreviam como impulsivos e irascíveis. Hoje, a ciência avança ao mostrar que boa parte desse comportamento tem base biológica e função no amadurecimento.

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Essa fase do desenvolvimento, com explosões emocionais e desobediências pontuais, favorece a exploração, a autonomia e a construção da identidade. Em vez de patologizar tudo, é preciso contexto: mudar, testar limites e errar fazem parte de crescer. 

A adolescência contemporânea, porém, acontece sob novas pressões. Smartphones e redes sociais amplificam comparações, expõem a padrões estéticos irreais e abrem janelas para discursos extremistas. Sem mediação, isso cobra um preço da saúde mental.

Visão histórica: de “adultos em formação” à fase protegida

Por muito tempo, jovens foram tratados como adultos em miniatura: trabalhavam cedo e casavam cedo.

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A noção de adolescência como etapa distinta ganhou força nos séculos 19 e 20, com o fim do trabalho infantil e a expansão escolar. Após a Segunda Guerra, cresceu a percepção de que essa faixa etária exige proteção específica.

O psicólogo Stanley Hall marcou o debate ao definir a adolescência como turbulenta, visão que dominou por décadas.

Hoje, entende-se que variações emocionais são típicas do período. A chave é diferenciar sinais normativos de alerta legítimo. Instabilidade não é sinônimo de transtorno; requer rede de apoio, rotina e escuta qualificada quando necessário.

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Quando começa e quando termina?

A OMS define adolescência dos 10 aos 19 anos; o ECA, dos 12 aos 18. O início se liga à puberdade, com marcos como menstruação e ejaculação, que vêm ocorrendo mais cedo. Já a maturidade social e psicológica avança em outro ritmo.

Por isso, especialistas sugerem olhar para trajetórias, não só para idades. Muitos adiam saída de casa, casamento e entrada estável no mercado. Do ponto de vista neurológico, há quem proponha estender o recorte até os 25 anos.

O recado editorial é simples: políticas públicas, escola e família devem considerar essa transição prolongada. Pressa em “adultizar” pode gerar frustração; excesso de tutela, por sua vez, sufoca a autonomia.

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O cérebro em obra: emoção acelera, controle chega depois

Humanos nascem imaturos e levam anos moldando conexões neurais. Na puberdade, ocorre uma “poda” de sinapses e o avanço da mielinização, que melhora a eficiência do cérebro ao longo da juventude.

O sistema límbico, ligado a emoção e recompensa, amadurece antes do córtex pré-frontal, responsável por planejamento e controle inibitório.

Esse descompasso ajuda a explicar a impulsividade e a busca por novidade típicas da adolescência. Em outras palavras, sentir vem na frente de frear.

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O papel do adulto é oferecer limites claros, sem humilhação, e oportunidades seguras de experimentar — do esporte à arte, passando por projetos e participação social.

Preguiça ou relógio biológico?

Durante a adolescência, a liberação de melatonina acontece mais tarde. O corpo pede para dormir e acordar depois, ao mesmo tempo, em que a necessidade total de sono aumenta. Acordar cedo para a escola contraria esse ritmo e derruba atenção e memória.

Chamar de “preguiça” costuma piorar. Ajustes simples ajudam: rotina regular, luz natural pela manhã, telas fora do quarto à noite e, quando possível, horários escolares que respeitem o cronotipo juvenil.

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Dormir melhor reduz conflitos, melhora o humor e protege o aprendizado. Sono não é luxo; é infraestrutura básica para o cérebro em desenvolvimento.

Adolescência digital: atenção em disputa

Cérebro em formação, privação de sono e apetite por novidade aumentam a vulnerabilidade no ambiente online. Feeds infinitos e notificações funcionam como máquinas de recompensas variáveis, disputando foco e afetando autoestima.

Isso não transforma redes em vilãs por definição, mas exige educação digital. Sem orientação, o jovem fica mais exposto a comparações tóxicas, desinformação e radicalização.

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Com mediação, pode aprender, criar e se conectar de forma saudável. Famílias que combinam monitoramento proporcional com diálogo aberto tendem a ter melhores resultados. Curiosidade e escuta ativa funcionam melhor do que sermões ou vigilância secreta.

Como apoiar, na prática

  • Estabeleça limites claros e negociados: tempo de tela, horários e espaços de estudo e descanso. Consistência reduz atritos e evita “guerras de última hora”.
  • Priorize o sono: rotina regular, quarto escuro e silencioso, nada de telas antes de dormir. Pequenas mudanças somam grandes ganhos.
  • Ofereça caminhos para explorar: esporte, música, voluntariado, clubes de ciência, debates. Novidade com propósito diminui riscos e fortalece a identidade.
  • Construa diálogo de verdade: pergunte mais, julgue menos, valide emoções. Combine regras com explicações e consequências previsíveis.
  • Seja exemplo digital: adultos também precisam revisar hábitos. Se todos jantam sem celular, a regra faz sentido.
  • Observe sinais de alerta: queda brusca no rendimento, isolamento extremo, distorção de imagem corporal, automutilação, apologia de ódio. Nesses casos, procure ajuda especializada.

Entender para acolher

A adolescência é um projeto coletivo. Quando sociedade, escola e família reconhecem a base biológica do comportamento juvenil e os desafios do mundo conectado, abrem espaço para autonomia com segurança.

O objetivo não é “domar” adolescentes, e sim oferecer condições para tomarem boas decisões. Com ciência, limites e afeto, a rebeldia deixa de ser rótulo e vira energia para aprender, criar e transformar.

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