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Cotidiano

DER estuda viabilidade de nova rodovia ligando Parelheiros ao Litoral de SP

Rodovia motivou grande ato político e popular há 50 anos, e há 30 anos recebeu aval da Assembleia Legislativa para licitação, mas projeto nunca saiu do papel

Nilson Regalado

29/07/2024 às 06:30

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A Rodovia Parelheiros-Itanhaém ainda não saiu do papel

A Rodovia Parelheiros-Itanhaém ainda não saiu do papel | Rubens Chaves/Folhapress

Quem parte do Córrego da Traição rumo ao sul adentra “a mais antiga sociedade paulista”. É isso que diz o brasão de Santo Amaro. Mas, a antiga Vila de Jeribatiba, do cacique Caiubi e do jesuíta Anchieta, deixou de ser um município autônomo em 1935 para se tornar apêndice da grande metrópole. No bairro de Marsilac, esticando o pescoço dá até para ver o mar. Dali ao litoral são só 15 quilômetros. É tão perto que, há exatos 50 anos, moradores do extremo sul da Capital protagonizaram um grande ato político a favor da construção da Rodovia Parelheiros-Itanhaém.

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A mobilização também reuniu secretários de Estado, prefeitos e deputados, em plena ditadura militar. Mas, a estrada nunca saiu do papel. Cinco décadas depois do ‘Plenário de Santo Amaro’, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) admitiu nesta semana que voltou a avaliar o projeto.

Segundo o DER, o estudo de viabilidade técnica e econômica está a cargo da Diretoria de Engenharia. Na prática, trata-se de uma atualização das informações contidas na análise feita pelo próprio DER em 2015. A retomada dos estudos de viabilidade da estrada foi revelada nesta semana, com exclusividade para a Gazeta de S.Paulo.

A rodovia beneficiaria não só os moradores da Zona Sul da Capital e de Itanhaém. A Parelheiros-Litoral Sul também encurtaria o tempo de deslocamento até Mongaguá, Peruíbe e Praia Grande. A expectativa é que a ligação reduziria pela metade o tempo de viagem entre São Paulo e a praia nos dias de semana.

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“O acesso entre a Baixada Santista e o Planalto é um dos maiores gargalos da nossa Região Metropolitana”, resume o prefeito de Itanhaém, Tiago Rodrigo Cervantes (Republicanos).

“A implementação de uma terceira via de acesso beneficiaria significativamente Itanhaém e toda a região, melhorando não apenas a logística, mas também a mobilidade, a segurança dos motoristas e reduzindo o tempo de viagem”, completa o prefeito.

“Esse avanço (a rodovia) fortaleceria o turismo e impulsionaria nossa economia”, projeta Cervantes, de olho no eventual surto de desenvolvimento a partir da ligação direta com a região que mais cresce na Capital e que concentra 40% do território de São Paulo.

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A Prefeitura de São Paulo e a Subprefeitura de Parelheiros foram procuradas ao longo da semana pela Gazeta de S.Paulo para que se manifestassem se são favoráveis ou não à ligação Parelheiros-Itanhaém, mas, até a publicação desta reportagem, não se manifestaram.

A Administração Municipal também foi consultada durante três dias seguidos sobre eventuais impactos econômicos da obra nos bairros do extremo sul da Capital, mas também silenciou.

Santos Guarujá e Porto

A SP-040 (Rodovia Parelheiros-Itanhaém) também reduziria o volume de veículos no Sistema Anchieta-Imigrantes, beneficiando os motoristas que se dirigem a Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão e Bertioga.

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O ‘novo’ estudo de viabilidade técnica e econômica também surge como resposta ao crescimento contínuo da movimentação de cargas no Porto de Santos e à consequente necessidade de rotas alternativas à Via Anchieta. Como a segunda pista da Rodovia dos Imigrantes tem um ângulo muito agudo, o tráfego de caminhões é proibido na via, o que sobrecarrega a Anchieta, criando um gargalo logístico que emperra o comércio exterior do Brasil.

E a rodovia ligando o extremo sul da Capital ao Litoral Sul serviria como rota alternativa aos caminhões que se deslocam do norte do Paraná, da região oeste do Estado de São Paulo e até do Mato Grosso do Sul rumo ao Porto de Santos.

Vale do Ribeira

A estrada também aproximaria a Capital dos moradores de Itariri e de Pedro de Toledo, no Vale do Ribeira. Hoje, os motoristas dessas duas cidades têm de se dirigir até Miracatu, onde acessam a Rodovia Régis Bittencout (BR-116) para chegar à Grande São Paulo.

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Assim, os moradores Pedro de Toledo e de Itariri são obrigados a rodar até 170 quilômetros para acessar a Capital do Estado, distância que cairia pela metade com a Parelheiros-Itanhaém. A outra alternativa para esses motoristas é o sobrecarregado Sistema Anchieta-Imigrantes.

Rodovia teria apenas 15 km e ligaria SP às praias em apenas 30 minutos

Depois do “Plenário de Santo Amaro”, a ideia de construir uma ligação viária entre o Planalto e o Litoral Sul voltou a ser discutida há exatos 30 anos. Naqueles dias, a primeira pista da Imigrantes, inaugurada em 1976 pelo então governador Paulo Egydio Martins (1928/2021), já estava estrangulada. Àquela altura, os congestionamentos eram frequentes.

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Os transtornos idem. Turistas esperavam até sete horas para descer a Serra do Mar nos feriados de final de ano. E o Porto de Santos estava travado. Ciente da sobrecarga no Sistema Anchieta-Imigrantes, o então deputado Erasmo Dias (1924/2010) apresentou na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp) um projeto autorizativo que previa a construção da Rodovia Parelheiros-Itanhaém.

A proposta foi protocolada na Alesp em 7 de outubro de 1994 e previa a concessão da obra para a iniciativa privada. E o Projeto de Lei 560/94 foi aprovado em plenário!

“A permanente ligação entre o Planalto e o Litoral Paulista é necessidade imperiosa e que hoje está saturada, em que pese a existência do complexo Anchieta-Imigrantes”, resumiu Erasmo Dias no texto original.

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“O município de São Paulo tem cerca de um terço da sua superfície na Zona Sul de Parelheiros, área inexplorada, que com a citada rodovia viria a se dinamizar sob todos os aspectos”, explicou o deputado na época.

“A iniciativa privada tem nessa concessão uma feliz oportunidade de demonstrar além de sua capacidade técnica, a contribuição inestimável ao Poder Público e à Sociedade nessa obra de grande envergadura e de necessidade vital para o Estado’, completou Erasmo em sua justificativa aos demais deputados estaduais.

Empresa se interessou

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E em 2012, a empresa concessionária Contern Construções e Comércio Ltda manifestou ao Governo do Estado interesse em construir e operar a rodovia, a princípio chamada provisoriamente de Nova Imigrantes.

Posteriormente, o nome do ex-presidente João Goulart (1919/1976), deposto ilegalmente pela Ditadura Civil-Militar de 1964, foi cogitado para batizar a Parelheiros-Itanhaém. Goulart foi o único presidente a tentar implementar uma ampla reforma agrária no Brasil, o que desagradou a elite.

O trajeto da estrada Capital-Litoral Sul teria apenas 15 quilômetros, contra os quase 70 da Imigrantes. Na Baixada Santista, o traçado começaria na altura do km 319 da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega (SP-55), no Jardim Suarão, próximo à divisa Itanhaém/Mongaguá.

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O projeto original previa que as pistas atravessariam os vales dos rios Aguapeú, Branco e Branquinho. Após a subida da Serra do Mar a estrada chegaria ao Planalto pela margem do Vale do Rio Capivari, já no Município de São Paulo.

A partir daí o asfalto seguiria no sentido sul-norte paralelamente à antiga estrada de ferro que ligava os distritos de Marsilac e Santo Amaro através da Estação Evangelista de Souza.

E cruzaria o Rodoanel Mário Covas (SP-21) na altura do Km 56. O fim da viagem seria na Estrada Ecoturística de Parelheiros, próximo do cruzamento com a Avenida Fernando da Cruz Alves.

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Responsável pela construção da segunda pista da Rodovia dos Imigrantes e administradora das pistas que interligam a Capital a Santos, a Ecovias foi consultada pela Gazeta de S.Paulo, mas alegou que não conhecia detalhes do projeto da Rodovia Parelheiros-Itanhaém.

Impacto econômico

A Associação Comercial de São Paulo também foi procurada pela reportagem para avaliar a eventual atração de novos negócios para o extremo sul da Capital a partir da nova estrada, e a consequente geração de empregos em uma área de São Paulo com demandas sociais agudas.

Embora disponha de uma unidade distrital em Santo Amaro, que abrange os bairros Alto da Boa Vista, Brooklin, Campo Belo, Campo Limpo, Capela do Socorro, Capão Redondo, Cidade Ademar, Cidade Dutra, Grajaú, Interlagos, Jardim São Luiz, Jurubatuba, MBoi Mirim, Parelheiros, Santo Amaro e Socorro, a ACSP afirmou que “não possui informações suficientes sobre o tema”.

Em nota, a Associação Comercial concluiu afirmando que “portanto, não tem um posicionamento sobre a eventual ligação e nem dados sobre os impactos econômicos na região”.

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